Os candidatos do Chega, do Bloco de Esquerda, do Livre e do PAN às eleições europeias estiveram, esta noite, em debate, na RTP. Das questões da imigração à transição climática e energética, passando pela guerra na Ucrânia e pelo alargamento da União, foram vários os temas em cima da mesa – com algum consenso e até convites para mudança de família política.
Há um problema de imigração?
O cabeça de lista do Chega, António Tânger Corrêa, viu-se isolado no tema das migrações, sendo o único candidato em debate a defender políticas de imigração “mais restritivas”.
Ainda assim, Tânger Corrêa quis sublinhar que o Chega “não é contra a imigração. “Nós precisamos de imigrantes”, admitiu, referindo como exemplo a baixa natalidade em Portugal como uma questão que pode ser resolvida através da entrada de imigrantes. Frisa, no entanto, que esta tem de ser “controlada”.
“Quando se abrem as portas de forma escancarada, entram os maus elementos”, atirou.
O candidato do Chega rejeitou ainda que o discurso do partido favoreça situações como o ataque racista a imigrantes que ocorreu no Porto.
Catarina Martins, a candidata do Bloco de Esquerda, discordou e apontou que é precisamente o discurso dos Chega que fomenta a “xenofobia e ódio”.
Para a candidata bloquista, “o maior problema de segurança na União Europeia é a extrema-direita", “que ataca nacionalidades e divide povos”, e não os migrantes que chegam “à procura de uma vida melhor”.
Catarina Martins considera que já há controlo de fronteiras tanto na União Europeia como em Portugal e os problemas relacionados com as migrações são outros. “Tem a ver com a regularização de pessoas que já estão em Portugal. O nosso país está a explorar pessoas que estão cá a trabalhar”, referiu, detalhando que os trabalhadores migrantes são explorados pelo Estado, pelas empresas e pelos senhorios.
“O problema resolve-se com regularização e políticas de integração”, defendeu, sublinhando que não se pode admitir mão-de-obra migrante em Portugal sem criar condições para as pessoas serem tratadas com dignidade.
Pelo Livre, Francisco Paupério defendeu os corredores humanitários para pessoas em situação de emergência, como os refugiados climáticos, mas também políticas integradas, com coordenação europeia das fronteiras externas, defendendo que se deixe entrar todos aqueles que cumpram os requisitos para tal.
"Temos o dever de acolher estas pessoas”, defendeu.
O mesmo defendeu Pedro Fidalgo Marques, candidato do PAN, sublinhando que o projeto europeu é de “integração”.
Fidalgo Marques nota, contudo, que o pacto das migrações recentemente aprovado pode mesmo afetar portugueses que vão para a Europa e facilitar a detenção de perfis racializados.
A existência de refugiados climáticos é também uma preocupação do PAN, que pretende combatê-la através do combate às alterações climáticas.
Que futuro para a guerra na Ucrânia?
No que toca ao conflito militar entre a Ucrânia e a Rússia, António Tânger Corrêa, do Chega, defendeu a integridade territorial da Ucrânia, frisando que um acordo de paz não pode implicar cedência de territórios.
Para já, defende, é preciso reforçar a capacidade da Ucrânia, mas, quando houver uma solução diplomática, ela terá de contra com a mediação da Inglaterra e dos Estados Unidos da América.
Quanto ao efeito que uma eventual vitória de Trump nas eleições norte-americanas poderá ter no curso da guerra, Tânger Correia diz não saber ainda se poderá ou não haver perigo para a Europa.
Catarina Martins, por outro lado, defende que, se não houver paz, haverá a destruição da Ucrânia ou um desastre nuclear. A cabeça de lista do Bloco de Esquerda quer que a União Europeia se imponha e procure promover verdadeiras negociações. “É responsabilidade da UE fazê-lo”, defendeu.
“A UE fala muito de armas, nunca fala de paz”, atirou.
Catarina Martins acusa, por isso, a União Europeia de um “enorme cinismo”. “Diz que dá todo o apoio à Ucrânia, sem discutir o essencial para que [a paz] possa acontecer.”
Francisco Paupério, candidato do Livre, considera que a Europa não deve intervir em termos militares. “Temos de ir atrás da paz, não é do conflito”, sustentou.
No entanto, sublinha, é preciso “respeitar a vontade do povo ucraniano" - e, se a vontade da Ucrânia for combater, a UE deve ajudá-la “com armas e apoio económico para a reconstrução”.
Para o Livre, é ainda importante que a UE tenha uma “política externa única” que lhe permita sentar-se à mesa das negociações.
Já o candidato do PAN é da opinião de que “apoiar a Ucrânia é apoiar direitos humanos e as pessoas que estão lá”.
“É defender a liberdade, defender o projeto europeu”, continuou, sublinhando que “é inequívoco que Ucrânia deve ter apoio da europa”.
“Não podemos ser utópicos e achar que vamos lá com negociações. É óbvio que é preciso apoio militar à Ucrânia”, declarou, apesar de defender que a UE tem se esquecido de procurar também o caminho das conversações.
Neste ponto, alerta ainda para os riscos ambientais da guerra.
Deve aumentar a despesa com Defesa?
Para António Tânger Corrêa, “é evidente” que se deve atribuir uma maior verba à Defesa. O candidato do Chega defende que esse investimento pode passar por uma solução “público-privada”.
Mas atira que é “relativamente tranquilizador” que Putin esteja “ocupado” com a Ucrânia e que não deverá virar atenções mais para o Ocidente, nos próximos tempos.
Catarina Martins, por outro lado, considera que os fundos para a Defesa servem para financiar as indústrias de armamento e que poderiam ser gastos noutras áreas, como a Saúde e a Educação.
A cabeça de lista do Bloco de Esquerda afirma que “a Europa só não tem independência estratégica porque não quer”, uma vez que tem duas potências nucleares, e gasta mais em Defesa do que a Rússia ou a China.
Catarina Martins fala, mais uma vez, em “eurocinismo”, apontando que, enquanto afirma os valores europeus – como a paz e a democracia -, há quem na Europa dê armas a Israel para levar a cabo um “massacre em Gaza”.
Francisco Paupério, candidato do Livre, considera que a Europa tem de ter uma política de segurança comum, mas sublinha mas a segurança “não vem só da Defesa", sugerindo, por exemplo, a independência energética da Rússia como arma.
“Temos de pensar se queremos alocar todo este dinheiro para a defesa e depois deixar pessoas sem casa”, alertou.
Já Pedro Fidalgo Marques, candidato do PAN, prefere uma política europeia com “unidades de intervenção rápida”, em vez de um “exército europeu”. “Neste momento, é algo utópico”, admite.
O candidato sublinha que o PAN é contra o serviço militar obrigatório, mas, ainda assim, defende que é preciso reforçar a segurança - embora de uma forma integrada. “Não vale a pena estramos todos a fazer o mesmo.”
Sugere ainda a quem ganha lucros excessivos fazer pagar uma contribuição para compensar os danos que a indústria da Defesa causa a nível ambiental.
Que alargamento para a UE?
António Tânger Corrêa, do Chega, sublinha que será o comportamento de cada país a ditar o ritmo de entrada na UE.
Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, considera que é preciso pensar os tratados atuais, independentemente dos alargamentos.
Já Francisco Paupério, do Livre, considera que, apesar de Portugal poder ser penalizado por um futuro alargamento, “olhar para os fundos não pode ser a prioridade”. O foco, acredita, deve estar na “coesão” e em “expandir o projeto de paz”.
Paupério notou como o alargamento poderá até contribuir para a segurança alimentar da UE, uma vez que “a Ucrânia é o celeiro do mundo” e haverá transformações na agricultura europeia.
Pedro Fidalgo Marques, do PAN, também defende que “não se deve encarar o alargamento como problema”, mas considera que é preciso haver reorganização - para não haver blocos de grande peso populacional a decidir por toda a UE.
Então e o Ambiente?
O candidato do Chega, António Tânger Corrêa, surpreendeu afirmando que se considera “ambientalista”, e que os partidos conservadores são os que “melhor tratam o ambiente” porque são “do mundo rural”.
Tânger Correa também não negou que “a emergência climática existe”, apesar de ressalvar que “ela não depende só do ser humano”.
Desafiado a afirmar o que distingue o PAN do Livre em termos ambientais, visto que ambos pertencem ao grupo europeu dos Verdes, Pedro Fidalgo Marques, candidato do PAN, afirmou que, para o partido, as questões ambientais são primordiais, assim como a proteção e bem-estar animal.
Já Francisco Paupério, candidato do Livre, sublinhou que o que separa os dois partidos é foco na justiça social – e que é por isso que o Livro se assume de esquerda. Diz Francisco Paupério que o partido tem uma visão mais sistémica e integrada do ambientalismo.
Numa tirada inesperada, Catarina Martins disse ao candidato do Livre que gostava de ouvir a forma como este defende os direitos humanos, e desafiou o Livre a estar “verdadeiramente na esquerda”, no grupo europeu - em vez de fazer parte do grupo dos Verdes – que, acusa a candidata do Bloco, na Europa, defendem a entrega de armas a Netanyahu.