Num discurso apoteótico, André Ventura declarou o fim do bipartidarismo em Portugal. O líder do Chega, que defendeu um “ajuste de contas com a História”, garante que, depois deste domingo, nada ficará como dantes no país. E avisa que “está quase” a poder “finalmente” governar.
O Chega conseguiu, nas eleições legislativas deste domingo, 22,56% dos votos, em Portugal continental e nas ilhas, somando o mesmo número de deputados que o PS. Ainda não são conhecidos os resultados dos votos da emigração, mas, se se confirmar a tendência das últimas legislativas, o Chega poderá vencer também a votação do estrangeiro – e, assim, superar os socialistas em número de deputados.
André Ventura assinalou isso mesmo, no discurso que fez, na sede de campanha do Chega, em Lisboa, esta noite, declarando ter conseguido “algo que não acontecia desde 25 de Abril de 1974”.
“O Chega tornou-se, nestas eleições, o segundo maior partido da nossa democracia", exaltou – apesar de, sublinhe-se, ainda não ser oficial que ficará à frente do PS em termos de mandatos. "Podemos declarar oficialmente que acabou o bipartidarismo em Portugal”, exaltou, ainda assim, Ventura.
"Fizemos mesmo o que nunca nenhum partido tinha feito em Portugal", declarou.
O líder do Chega glorificou-se por ter "varrido do mapa" os partidos à esquerda, “em distritos que se dizia que nunca deixariam de ser de esquerda”.
"O Chega superou o partido de Mário Soares, o partido de António Guterres. Matou o partido de Álvaro Cunhal. E varreu do mapa o Bloco de Esquerda com uma pinta que nunca se tinha visto em Portugal", atirou.
Não deixando de atacar também as sondagens, que davam um resultado inferir ao Chega - e que acusou de quererem "propositadamente deitar abaixo" o partido e a quem exigiu "responsabilidades"-, Ventura fez questão de manter o já habitual nível de discurso, afirmando que esta noite há "azia" e que "a mama vai acabar" no país. No mesmo tom, quando o líder do partido mencionou, no discurso, o líder do PS, Pedro Nuno Santos, que se demitiu perante os resultados eleitorais, ouviu-se, na sede de campanha do Chega, gritar em coro "Chora, Pedro!".
Referindo, que recebeu mensagens de parabéns dos "grandes líderes europeus da direita", André Ventura recusou-se, contudo, a "falar de governo e do que sucederá". "Hoje não é dia", declarou. "É dia de mostrar que jogámos contra toda a sujidade do sistema e resistimos, superámos e vencemos."
O “acerto de contas” com a História
Para André Ventura, o desfecho eleitoral desta noite é um “acerto de contas com a História”. O presidente do Chega disse que esta era uma vitória do “português comum” que foi esquecido pelo sistema – mencionando, especificamente, os ex-combatentes e os emigrantes,
"Não vamos voltar atrás na História", mas "podem sentir orgulho com o grande ajuste de contas que hoje foi feito em Portugal", disse.
"Mudámos o sistema político para sempre", afirmou, defendendo que os portugueses "deram um grito de revolta".
"Não vencemos estas eleições, mas fizemos História", afirma André Ventura, declarando que "nada ficará como dantes em Portugal a partir da noite de hoje".
"Aos que sentem traídos por este sistema, aos que se sentiram abandonados: estamos quase, quase, lá. Quase a atingir o ponto em que poderemos, finalmente, governar Portugal", declarou.