Curiosidades da Ciência

Encontrado gelo num sistema planetário jovem pela primeira vez: uma descoberta importante e há muito aguardada

É uma descoberta importante e há muito aguardada pela comunidade científica. Os investigadores tentavam, há anos, confirmar a presença de gelo num sistema planetário jovem. Foi graças ao Telescópio James Webb que os astrónomos conseguiram, finalmente, obter provas claras da existência de água em estado sólido.

NASA, ESA, CSA, STScI, Ralf Crawford (STScI)

Ana Luísa Monteiro

É mais uma estreia para o Telescópio Espacial James Webb. Uma equipa de astrónomos dos Estados Unidos e Espanha descobriu, pela primeira vez, gelo de água cristalina num sistema planetário jovem, graças a imagens captadas pelo telescópio da NASA. A investigação foi publicada, esta quarta-feira, na revista Nature.

A conclusão do estudo vem confirmar o que há muito os astrónomos suspeitavam. Em 2008, o agora desativado telescópio Spitzer já sugeria a presença de gelo num disco de detritos à volta da HD 181327, uma estrela semelhante ao Sol, localizada a 155 anos-luz da Terra. Também o telescópio Hubble, em 2012, indicava que podia haver água em estado sólido neste sistema planetário. Até ao momento, não tinha sido possível confirmar a suspeita. A tarefa ficou a cargo do James Webb que, através de instrumentos infravermelhos, conseguiu validar a presença de gelo.

"O Webb detetou de forma inequívoca não só água gelada, mas água gelada cristalina — tal como aquele que encontramos nos anéis de Saturno e em corpos gelados da Cintura de Kuiper do nosso Sistema Solar," explicou Chen Xie, autor principal do novo estudo e investigador na Universidade Johns Hopkins, nos EUA, citado pelo site do James Webb.

De acordo com o site, a estrela HD 181327 tem cerca de 23 milhões de anos e é muito mais jovem do que o Sol, com 4,6 mil milhões de anos. "É também ligeiramente mais massiva e quente, o que originou um sistema planetário ligeiramente maior", detalham os investigadores do James Webb.

As observações feitas pelo telescópio da NASA mostram ainda que existe um grande vazio entre a estrela e o seu o seu disco de detritos, onde há planetas-anões, cometas e outros corpos de gelo e rocha que colidem uns com os outros. Pensa-se que, há milhares de milhões de anos, a Cintura de Kuiper do Sistema Solar era muito parecida com este disco.

"O sistema HD 181327 é extremamente ativo", referiu Christine Chen. "Há colisões constantes no disco de detritos. Quando esses corpos gelados colidem, libertam partículas minúsculas de gelo com poeira que são perfeitas para o Webb detetar".

De acordo com a investigação, o gelo não está distribuído de forma homogénea pelo sistema planetário: nas zonas mais próximas da estrela, a presença da água gelada é praticamente nula por causa do calor, enquanto nas zonas mais distantes representa até 20% da composição total.

Um investigador do Instituto de Astrofísica da Andaluzia, ouvido pelo El País, diz que a descoberta confirma a existência de gelo nas regiões exteriores dos discos de detritos, resultado de colisões constantes entre corpos rochosos e poeirentos. Guillem Anglada lembra que, tal como se pensa ter acontecido no Sistema Solar, estes corpos ricos em gelo podem atravessar a chamada "linha de neve" e contribuir para a formação de oceanos em planetas rochosos. Apesar de o processo ser ainda uma teoria, o investigador acredita que estamos a observar fases iniciais semelhantes às que originaram o nosso próprio sistema planetário.

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