Consulta aberta

O que é, afinal, um peso saudável? Será o IMC um bom indicador de saúde?

Hoje vem à consulta porque foi fazer uma avaliação no seu ginásio e ficaram muito preocupados. Tem peso a mais e um índice de massa corporal elevado, razão pela qual foi avisado de que não estaria saudável. Mas o que é exactamente um peso saudável, e será o IMC um bom indicador de saúde?

Margarida Graça Santos

O IMC calcula-se dividindo o peso pela altura ao quadrado e foi criado em 1832, altura em que um matemático belga, Adolphe Quételet, quis perceber quais seriam as características de um homem “normal”. Em 1950, Louis Dublin, vice-presidente de uma seguradora, estabeleceu categorias de peso para os seus clientes com base neste índice, porque reparou que os clientes com mais peso, se queixavam de mais problemas de saúde.

Usou então o IMC para classificar as pessoas como S de small, M de medium e L de large.

Mas foi em 1970 que um fisiologista americano promoveu o índice de Quételet, que apelidou de Índice de Massa Corporal (IMC), como a melhor maneira de avaliar o excesso de peso nas populações, dando-lhe o uso que têm até aos dias de hoje. Fê-lo com base num estudo em que avaliou 7.500 pessoas “saudáveis”, de diferentes grupos socioculturais.

Uns anos depois a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu formalmente a obesidade como epidemia global e recomendou o uso do IMC para diagnóstico de obesidade. Mas sabia que atualmente, a definição de obesidade implica que, mais do que o peso, haja um excesso de gordura e que este tenha um impacto negativo na saúde?

Balanças que compra online? Desconfie…

Se por um lado o índice de massa corporal é uma medida interessante para avaliar populações, porque sabemos que têm alguma correlação com a quantidade de gordura corporal, por outro é uma medida muito pouco específica a nível individual.

Não diferencia o que é peso da massa muscular, de água, de massa óssea ou de gordura. Ah, e aproveito para dizer que aquelas balanças que compra online e que garantem dizer-lhe qual a sua percentagem de massa gorda são muito pouco fidedignas, e são influenciadas por muitos fatores externos, como exercício físico, consumo de chá ou café, entre outros.

A obesidade está associada ao risco de doenças crónicas como problemas de coração, tensão alta, diabetes, cancro e doenças psiquiátricas, mas sabemos que muitas destas doenças também são fruto do estigma com que vive quem têm obesidade, por ser automaticamente categorizado como preguiçoso ou negligente com a sua saúde. E este estigma deve ser contrariado.

Para além disto, olhar só para o peso faz com que ignoremos uma coisa muito importante: a saúde não se mede com um número na balança, e diferentes tipos de corpos, em diferentes regiões do mundo, podem ter um peso saudável muito diferente, mesmo se tiverem exatamente a mesma altura.

Dou-vos um exemplo prático: de um lado temos a Sara, com 1,75 metros de altura e 78 kg, o IMC é acima de 27 - o que indica que têm excesso de peso. Mas quando lhe pergunto diz-me que treina 5 vezes por semana, tem uma alimentação equilibrada, dorme bem, não fuma nem bebe álcool.

Depois temos a Marta, que pesa 59 kg com o mesmo 1,75 metros de altura e um IMC que indica um peso saudável. Fuma 10 cigarros por dia, têm insónia crónica, não gosta de treinar e costuma encomendar as suas refeições do supermercado do lado. Consegue perceber como aqui o peso acaba por ter muito pouco interesse na avaliação de saúde?

Mais do que um número na balança, interessa compreender que a saúde, tal como diz a OMS, é um estado de bem estar físico mental e social. Por isso, da próxima vez que subir a balança numa consulta médica, peça para conversar sobre todos os outros estilos de vida saudáveis, porque nesses, com peso a mais ou peso a menos, vale sempre a pena investir.

Últimas