“Quero falar sobre queixas do foro sexual porque preciso de fazer rastreios a várias infecções sexualmente transmissíveis”. Muitas consultas deveriam começar assim, mas infelizmente, esta ainda não é uma realidade comum porque continuamos a achar que fazer rastreios é sinónimo de promiscuidade, quando não é.
Para explicar como é importante abordar o assunto, venho falar-lhe sobre clamídia. Uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada por uma bactéria chamada chlamydia trachomatis.
Pensa-se que é a IST mais comum na Europa e nos Estados Unidos e não escolhe nem sexo, nem idade, nem nível socioeconómico. Transmite-se no contacto sexual, quer seja sexo oral, vaginal ou anal. Pode acontecer assim que há troca de fluidos orais, vaginais, ou anais, mesmo não havendo ejaculação.
É uma infecção muito comum, mas na grande maioria dos casos pode não dar qualquer sintoma, o que faz com que se continue a transmitir de relação para relação.
As consequências da clamídia a longo prazo
Até 90% das mulheres com clamídia não têm qualquer sintoma, mas as que têm podem incluir: corrimento vaginal, sangramento anormal, dor abdominal, dor durante a relação sexual ou ardor urinário. Nos homens, até 70% não têm qualquer sintoma, mas quando estão presentes podem incluir ardor urinário, corrimento, dor ou sensibilidade dos testículos aumentada.
Muito raramente, a infecção por clamídia pode levar a uma inflamação das articulações, a que chamamos de artrite.
Então mas se mal dá sintomas qual é o problema? O problema é que uma infecção não tratada, mesmo sem sintomas, pode ter consequências a longo prazo.
Até 30% das mulheres com clamídia , nunca tratada, podem desenvolver o que chamamos de doença inflamatória pélvica. Uma doença em que há uma inflamação do útero e das trompas de falópio, podendo ter impacto na fertilidade, ou até aumentar o risco de gravidez ectópica, que é uma gravidez fora do útero. Também nos homens pode ter consequências a longo prazo.
Assista ao vídeo da Consulta Aberta e perceba a importância do rastreio da clamídia.
Onde fazer o rastreio gratuitamente
O Ministério da Saúde anunciou em abril que o rastreio da clamídia e gonorreia viria a ser comparticipado nos centros de saúde, mas ainda não é uma realidade. Pode, no entanto, perguntar ao médico de família como e onde fazer este rastreio. Há outros locais onde pode fazer o rastreio gratuitamente.
A melhor forma de evitar a transmissão de infecções sexualmente transmissíveis é o uso adequado de preservativo, sem qualquer dúvida. Mas tanto a clamídia, como a maioria das IST têm tratamento, por isso o importante é mesmo fazer o diagnóstico.
Não deixe que o estigma seja um obstáculo para uma conversa com o seu médico sobre eventuais sintomas, e necessidade de rastreios. A lista de locais onde pode fazer os rastreios de forma gratuita e confidencial está disponível neste endereço. (Clique no link)
Também é possível realizar os testes rápidos (testes point of care) de rastreio de infecções por VIH, VHB e VHC nas farmácias comunitárias e nos laboratórios de patologia clínica/análises clínicas.