As perturbações do comportamento alimentar afetam cerca de 4% da população e quase 90% são mulheres jovens, sendo a idade de início mais habitual a adolescência. Incluem doenças como anorexia nervosa e bulimia, por exemplo.
A primeira coisa que quero que saiba é que o diagnóstico de um distúrbio alimentar vai muito para além do peso na balança.
Aliás, apesar do risco de desnutrição ser uma componente importante, o que tira grande parte da qualidade de vida são as alterações do comportamento, os pensamentos, e emoções relacionados com o corpo e a alimentação. O diagnóstico implica que haja uma perturbação mantida do comportamento alimentar e que este tenha impacto na saúde e no funcionamento psicossocial.
E isto é importante porque continua a ser um grupo de doenças subdiagnosticadas. Normalizamos a obsessão com o peso e com um determinado padrão alimentar, sem perceber que quando passa a ser uma fonte de stress e quando tem impacto em todas as rotinas e planos, pode deixar de ser normal e isto é verdade independentemente do peso na balança, já que o excesso de peso ou obesidade, também se associa, frequentemente a perturbações do comportamento alimentar.
Os fatores de risco
Os fatores de risco ou fatores predisponentes incluem genética, história de traumas na infância e o ambiente e fatores externos.
Começam habitualmente com uma insatisfação com o corpo, que leva a comportamentos restritivos e criação de hábitos recorrentes em relação à alimentação, exercício físico, e outros. São várias as perguntas importantes a fazer quando se suspeita deste diagnóstico. Assista à Consulta Aberta desta semana para saber mais.
O diagnóstico é habitualmente clínico e deve ser feito por um profissional de saúde especializado. É importante também avaliar o impacto da doença na saúde física - já que pode ter várias consequências, incluindo alterações hormonais com impacto na menstruação e fertilidade, alterações da densidade mineral óssea, e o risco inevitável de desnutrição ou outras complicações que podem precisar de internamento. Para além disto é frequente associar-se a outras doenças como depressão, perturbação obsessivo-compulsiva e ansiedade.
As redes sociais normalizam de forma demasiado frequente as restrições alimentares ou o desporto com o único intuito de ver o número na balança descer.
Vemos páginas e páginas do antes e do depois, “perdeu 12 quilos em um mês”, de marmitas detox em que não se consomem mais do que três batidos por dia e tudo, supostamente, em nome da saúde. Eu percebo que é aliciante ver que alguém perdeu 10 quilos ou mais com uma nova dieta, e que queira fazer o mesmo, mas vale a pena pensar a que custo, e se é realmente saudável?
Pensar na alimentação é bom, e querer melhorar os hábitos e ser saudável também, mas deixar de ter qualidade de vida por um corpo que não é nem nunca será o nosso pode ser um verdadeiro problema.