Consulta aberta

Perder 12 quilos num mês ou fazer detox com três batidos por dia é saudável?

Nunca tivemos tantos vídeos nas redes sociais sobre dietas cetogénicas, jejum intermitente, perda de peso em seis dias e como preparar uma maratona em 10 dias. Ainda que algumas possam promover um estilo de vida saudável, outras podem também ser um gatilho para as perturbações do comportamento alimentar.

Margarida Graça Santos

As perturbações do comportamento alimentar afetam cerca de 4% da população e quase 90% são mulheres jovens, sendo a idade de início mais habitual a adolescência. Incluem doenças como anorexia nervosa e bulimia, por exemplo.

A primeira coisa que quero que saiba é que o diagnóstico de um distúrbio alimentar vai muito para além do peso na balança.

Aliás, apesar do risco de desnutrição ser uma componente importante, o que tira grande parte da qualidade de vida são as alterações do comportamento, os pensamentos, e emoções relacionados com o corpo e a alimentação. O diagnóstico implica que haja uma perturbação mantida do comportamento alimentar e que este tenha impacto na saúde e no funcionamento psicossocial.

E isto é importante porque continua a ser um grupo de doenças subdiagnosticadas. Normalizamos a obsessão com o peso e com um determinado padrão alimentar, sem perceber que quando passa a ser uma fonte de stress e quando tem impacto em todas as rotinas e planos, pode deixar de ser normal e isto é verdade independentemente do peso na balança, já que o excesso de peso ou obesidade, também se associa, frequentemente a perturbações do comportamento alimentar.

Os fatores de risco

Os fatores de risco ou fatores predisponentes incluem genética, história de traumas na infância e o ambiente e fatores externos.

Começam habitualmente com uma insatisfação com o corpo, que leva a comportamentos restritivos e criação de hábitos recorrentes em relação à alimentação, exercício físico, e outros. São várias as perguntas importantes a fazer quando se suspeita deste diagnóstico. Assista à Consulta Aberta desta semana para saber mais.

O diagnóstico é habitualmente clínico e deve ser feito por um profissional de saúde especializado. É importante também avaliar o impacto da doença na saúde física - já que pode ter várias consequências, incluindo alterações hormonais com impacto na menstruação e fertilidade, alterações da densidade mineral óssea, e o risco inevitável de desnutrição ou outras complicações que podem precisar de internamento. Para além disto é frequente associar-se a outras doenças como depressão, perturbação obsessivo-compulsiva e ansiedade.

As redes sociais normalizam de forma demasiado frequente as restrições alimentares ou o desporto com o único intuito de ver o número na balança descer.

Vemos páginas e páginas do antes e do depois, “perdeu 12 quilos em um mês”, de marmitas detox em que não se consomem mais do que três batidos por dia e tudo, supostamente, em nome da saúde. Eu percebo que é aliciante ver que alguém perdeu 10 quilos ou mais com uma nova dieta, e que queira fazer o mesmo, mas vale a pena pensar a que custo, e se é realmente saudável?

Pensar na alimentação é bom, e querer melhorar os hábitos e ser saudável também, mas deixar de ter qualidade de vida por um corpo que não é nem nunca será o nosso pode ser um verdadeiro problema.


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