Tudo começou quando entrou no confessionário do padre Fernando, na igreja de Joane, em Famalicão, para se confessar para a comunhão solene. Entre toques e perguntas obscenas, era então apenas uma menina.
“Confessava-me frente a frente, dentro do confessionário, junto a ele. Ele pegava na mão dele, punha na minha cara e puxava-me. Tinha de ficar com a cara encostada à dele, como se ele falasse ao meu ouvido e ele ao dele”, conta.
“Bem encostadinhos”. Era assim que começava. Uma das mãos a segurá-la, a outra, “não sei onde é que estava”, uma dúvida que só se começou a manifestar anos mais tarde, já “mais crescida”.
“Depois de crescer podemos pensar em muita coisa”, revela.
Mas não ficava por aqui. Na proximidade, o padre fazia-lhe perguntas obscenas.
“Vocês vão para trás da escola? Os rapazes metem-vos a mãozinha por baixo da camisola? Não dizem para tirar as cuequinhas? Para ver se há pelinhos?”
À SIC, conta que respondia que não, mas o padre insistia. Dizia: “Tens que falar a verdade porque o Senhor não te perdoa os pecados”.
“Brincas com o teu irmão? Ele chama-te ao quarto? O que fazem no quarto? Ele tira a roupa, atira-te para cima da cama?”
Revela também que era obrigada a dizer que sim e, ao chegar a casa, olhava para a mãe e questionava-se se devia contar o que tinha acontecido, mas dissuadia-se a ela própria por recear que a mãe lhe batesse.
“Fui crescendo e percebendo o que se tinha passado. A revolta instalou-se”.
No meio disto tudo, como fica a relação com a fé?
“Fui àquela igreja quando faleceram os meus pais. E não voltei, nem volto mais”.
Não deixou de ser crente e reaproximou-se da Igreja pelo filho.
“Quando o meu filho foi para a catequese eu quis estar junto a ele porque tinha medo que se passasse alguma coisa. O que fiz? Fiz-me de catequista”.
A SIC questionou o padre Fernando
A SIC falou com o padre Fernando Sousa e Silva, que garante que está inocente e que é vítima de uma calúnia. Para a vítima, estas declarações geraram uma “raiva terrível”.
“Se há alguém inocente no meio disto tudo não é ele, nunca. (...) O padre Fernando, pela idade - vamos dizer assim - está com um pé na cova. É o momento de ele se libertar deste peso também”.