Foram apresentadas três novas medidas para a habitação esta quinta-feira no briefing do Conselho de Ministros e José Gomes Ferreira analisa detalhadamente o que está escondido na medida que reduz a prestação ao crédito à habitação.
No Primeiro Jornal, José Gomes Ferreira debruça-se sobre a questão do desconto de 30% dos juros do empréstimo e considera que este mecanismo poderá empurrar o problema para mais tarde.
“De certa forma sim [empurra], mas para quem tem empréstimos, sobretudo os jovens, faz diferença, o mecanismo é interessante. É preciso explicar em pormenor para que cada um decida se quer aderir ou não, porque há umas coisas escondidas neste mecanismo”, alerta.
José Gomes Ferreira explica que, à partida, as pessoas pensam que vão pagar 30% dos juros, mas não é essa percentagem que é transportada para o sétimo ano de pagamento, em 2030.
"Imaginemos um empréstimo que tem uma taxa Euribor a 6 meses de 4,1% e tem um spread 1,5%, o spread mantém-se e o cálculo da nova prestação não será 4,1% da Euribor, mas sim 2,8%, o que foi retirado é 30% desta taxa, mas não são estes 30% dos juros que são transportados para pagar em 2030 é o equivalente mas em capital próprio em dívida", explica.
Para José Gomes Ferreira, esta ação do Governo é “benigna”, dado que se se transportasse os juros, ia-se pagar juros sobre esses juros. Por isso, explica, então, que desta forma se pega no equivalente dos juros em capital próprio em dívida e transporta-se para serem pagos a partir de 2030.
"As pessoas vão pagar mais e há duas frases que provam isso do ministro das Finanças como quando disse que "há sempre um pagamento integral dos juros neste mecanismo e o que acontece é que é o capital que é diferido" os juros como são os mesmos a pagar agora, esse capital diferido vai levar outra vez com juros, no empréstimo todo as pessoas vão pagar mais juros ao banco", esclarece.
Mesmo com esta consideração, a situação, para José Gomes Ferreira, “é prática” dado que evita que se gaste dinheiro do Orçamento do Estado e que pode ser aproveitada pelos jovens.
No entanto, acautela a todas as pessoas que têm capacidade financeira para aguentar este aumento das taxas.
"Acho que é melhor fazer muito bem as contas, no final do empréstimo acabam por pagar mais aos banco, mas algum benefício tinham que ter para entrar neste mecanismo", conclui.
A “prestação fixa”
A medida aprovada esta quinta-feira em Conselho de Ministros e apresentada pelo ministro das Finanças, Fernando Medina, dirige-se a créditos de habitação própria e permanente, contratados a taxa de juro variável ou mista que se encontrem num período de variável.
Para se poder beneficiar é ainda necessário que o prazo para a amortização do empréstimo seja superior a cinco anos e que o crédito tenha sido contratado até 15 de março de 2023.
Segundo referiu o ministro, através desta medida, as famílias vão poder pedir ao banco que "seja feita uma proposta de uma prestação constante e mais baixa durante dois anos", explicando que esta redução se consegue garantindo que durante aquele período a taxa de juro implícita não ultrapasse os 70% da Euribor a seis meses.
Após estes dois anos, nos dois anos seguintes, a prestação assume o seu valor 'normal' (com o indexante da altura totalmente refletido). Terminada esta fase de quatro anos, a pessoa vai pagar em anos restantes do empréstimo o valor não pago enquanto beneficiou da referida redução.