As burlas com investimentos em criptomoedas estão a aumentar em Portugal. Segundo a Polícia Judiciária, nos últimos dois anos o prejuízo para as vítimas é de cerca de 10 milhões de euros. A promessa é sempre a mesma: lucros astronómicos.
Nicola, é esse o nome que usa no Whatsapp. Apresenta-se como especialista de uma das corretoras mais credíveis do mercado, a Binance. Nicola sugere comprar USDTs - um tipo de criptomoeda, tal como a Bitcoin. Depois da compra pede para transferir esses ativos para a Trust Wallet: uma carteira digital, um espécie de homebanking.
É aqui que está o truque. Ao clicar no link do acesso, Nicola passa a gerir uma carteira de ativos e torna o processo mais credível porque lhe deposita dez dólares, o que reforça a ideia de que a promessa de lucro vai ser cumprida.
Mas à medida que se vai investindo mais, Nicola pode, a qualquer momento, retirar todo o dinheiro. Esquemas como este estão a fazer cada vez mais vítimas em Portugal.
“As vítimas têm conhecimento de plataformas através das redes sociais e decidem arriscar. Neste momento temos em aberto cerca de 600 investigações que representam, em termos de prejuízo global para as vítimas, aproximadamente 10 milhões de euros”, disse, à SIC, o coordenador de investigação criminal da Polícia Judiciária, José Cunha Ribeiro.
São raros os casos em que as vítimas conseguem recuperar o dinheiro, porque o mercado das criptomoedas não é regulado por bancos e é essa a maior dificuldade em se chegar aos criminosos.
"Nem o Banco de Portugal, nem nenhuma entidade nacional ou estrangeira que neste momento possa garantir que a informação que é prestada é informação de qualidade", explicou, à SIC, o diretor do departamento de ação sancionatória do Banco de Portugal, João Raposo.
Atualmente, a lei só permite ao Banco de Portugal registar empresas de compra e venda de criptoativos com sede em Portugal.
“A única dimensão que, neste momento, é de facto salvaguardada é a dimensão que tem que ver com um risco muito específicos que a prevenção de branqueamento de capitais e financiamento de terrorismo”, acrescentou João Raposo.
Furar as convenções do mercado foi desde o início o objetivo da Bitcoin, a primeira criptomoeda. Ou seja, em vez de as transações serem mediadas por bancos, são processadas entre milhares de computadores que trabalham através de uma tecnologia chamada Blockchain.
"Os criptoativos não são mais do que uma representação digital de valor registados numa base de dados descentralizada à qual nós chamamos blockchain e que permite transação de diverso tipo de ativos intangíveis que vulgarmente são designados por criptoativos", referiu Fred Antunes, especialista em criptomoedas.
Uma Bitcoin chegou a valer quase 65 mil euros
Em 2010, a Bitcoin custava menos de meio cêntimo. Aos dias de hoje, setembro de 2023, uma Bitcoin vale quase 25 mil euros. O mesmo, embora em menor dimensão, aconteceu com a Ripple, em 2017.
Roger Godinho, empresário no setor da panificação, investiu e converteu a moeda no momento certo.
“Tive sorte, eu admito que aí tive muita sorte: naquela semana em que eu comprei, pus mil euros na Ripple, saiu uma notícia que dois bancos estariam interessados em utilizar a Ripple para fazer as transações estrangeiras para melhorar a eficiência deles. E a moedas explodiu completamente. Acho que foi em 10 ou 14 dias eu abri a aplicação e tinha cerca de 7 mil e 200 euros”, recordou o empresário Roger Godinho.
Mil euros converteram-se em sete mil, mas o inverso é possível no mercado dos criptoativos.
“Quem decidi investir, tenha bem presente que aquilo que hoje vale cem, amanhã pode valer 150, mas pode valer zero”, explicou diretor do departamento de ação sancionatória do Banco de Portugal.
Contornar as burlas, ou evitar risco de maus investimentos traduz-se numa só palavra: informação.
"Investir em criptomoedas não é ilícito. Aquilo que me parece que é de facto importante é que as pessoas estejam verdadeiramente informadas em relação à decisão de investimento que estão a tomar", acrescentou ainda João Raposo.
No site do Banco de Portugal, da CMVM e da Procuradoria Geral da República são publicados com frequência alertas para este tipo de burlas.