Pensem comigo.
Porque é que os árbitros errariam de propósito se isso apenas lhes poderia trazer problemas com a família, com a justiça e com a própria consciência? E porque arriscariam uma carreira trabalhada durante anos, sabendo do escrutínio doentio que hoje é feito pela imprensa, pelos clubes e pela opinião sempre desconfiada dos adeptos?
Pensem comigo.
Porque é que os árbitros falhariam deliberadamente, se o seu bom-nome enquanto marido, pai, filho, colega ou vizinho seria humilhado e manchado para sempre? Porque atuariam com dolo e malícia, se o dano que isso causaria à sua vida pessoal e profissional seria irreparável? Totalmente irreparável?
Pensem comigo.
Que interesse é que os árbitros teriam em tomar más decisões com malícia e premeditação? Por mera simpatia clubística? Pelo retorno financeiro? Pela promessa de rápida ascensão? Mas nos dias de hoje haverá alguém assim tão estúpido ao ponto de achar que escaparia às mãos da justiça? A mesma justiça que tem áreas especializadas neste tipo de crimes, que faz escutas e vigias, que acompanha mudanças de hábitos, que deteta sinais exteriores de riqueza, que varre contas bancárias e declarações fiscais? A mesma justiça que sabe perfeitamente quando a bota não bate com a perdigota?
Pensem comigo.
Porque é que os árbitros treinariam diariamente, participariam em ações de formação e reciclagem, fariam testes físicos, escritos e psicotécnicos, iriam para estágios prolongados e abdicariam de anos preciosos perto dos seus? Para chegarem ao jogo e "roubarem"? Para perseguirem um clube e beneficiarem outro? Acham mesmo que, por estes dias, pessoas com dois dedos de testa, com formação específica, dotadas de condições técnicas de excelência, bem remuneradas e conhecedoras do meio onde estão inseridas, iriam errar com desonestidade? Para quê? Para tramar a "vossa" equipa? Para serem insultados, ameaçados e agredidos aqui e ali? Para terem que andar escondidos e viver num mundo condicionado?
Pensem comigo.
Que tipo de idiota faria atuações nefastas com intenção, num país que sabe ser doido por bola? Num país onde cada jogo, cada decisão, cada lance é esmiuçado ao mais ínfimo pormenor?
Vamos ser sinceros?
Sim, já houve árbitros corruptos, uns por serem uns escroques sem vergonha, outros uns desgraçados sem eira nem beira, vuneráveis a qualquer sopro de vento.
E sim, já houve corruptos que os tentaram seduzir de todas as formas e feitios, com ou sem dinheiro, com ou sem promessas, com ou sem influências.
Era um outro mundo, onde (quase) tudo se permitia, sem que ninguém visse, sem que ninguém se importasse ou sequer fiscalizasse. Outros tempos.
Felizmente mudou. Mudou muito. E hoje a esmagadora maioria dessa malandragem - os que foram apanhados e os que escaparam pelos pingos da chuva - já está onde deve estar: longe, bem longe do futebol que tanto gostamos.
Anotem por favor:
- Os árbitros erram porque são inexperientes ou incompetentes. Acontece o mesmo com jogadores, treinadores, dirigentes, jornalistas, comentadores ou adeptos. E acontece i mesmo com qualquer outra pessoa, em qualquer outra atividade.
Haverá por aí gente má e indecente? Sim, claro. Mas não acredito que na arbitragem do futebol moderno. Essa é a minha convicção muito sincera.
Há muito trabalho a fazer, muita gente boa para capacitar, muita gente incapaz para afastar. Há tanto para melhorar, mas apenas isso. Só isso.