Por esta altura, não é novidade para ninguém que a Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto (APCVD) é uma das poucas entidades verdadeiramente competentes, no que diz respeito à salvaguarda da segurança nos espetáculos desportivos.
Um dos grandes méritos da organização é a forma como atua: com celeridade, eficácia e, acima de tudo, transparência.
Tudo o que faz é publicitado com frequência e de forma clara, não restando dúvidas para ninguém sobre o que é pensado, planeado e executado, quer em termos de prevenção/sensibilização, quer em termos de punição.
Esta semana, a APCVD voltou a divulgar um relatório da sua atividade, desta vez com números de sanções aplicadas, que de algum modo atestam o longo caminho que ainda há a percorrer, no sentido de tornar o desporto português num espaço livre de atitudes xenófobas, racistas e manifestamente intolerantes.
Nos primeiros seis meses do ano - entre janeiro e junho de 2023 - foram contabilizadas 457 decisões condenatórias definitivas (média de quase 80 por mês!!), ou seja, não passíveis de recurso.
Neste período, 188 adeptos foram impedidos de aceder a recintos desportivos, por terem sido considerados culpados de condutas (no mínimo) inapropriadas. Caso alguma dessas pessoas cometa o erro de violar a sanção a que foi sujeita, incorrerá no crime de desobediência e poderá ser detida pelas autoridades policiais.
O risco não compensa e o melhor mesmo é cumprir a pena e aproveitar o puxão de orelhas para refletir sobre a forma como está no desporto.
Deste total de condenações, a maioria resultou em coimas, 143 em admoestações e 271 acabaram por ser arquivadas. Cerca de duas centenas (um pouco mais) foram remetidas ao Ministério Público, por configurarem prática de crime.
A punição é uma forma de pedagogia musculada. Quando prevenir não chega, quando sensibilizar e apelar às boas práticas não é suficiente, sancionar é a única forma eficaz de passar a mensagem. É assim em todo o lado e também no desporto, infelizmente.
Em vésperas de regresso das grandes competições, com o apaixonante futebol à cabeça, é fundamental que se perceba a importância de saber estar em espetáculos desportivos.
Viver o jogo intensamente, saborear vitórias, puxar pela equipa, vibrar, sorrir e gritar, faz parte. Tudo o que ultrapasse o normal e expectável, tudo o que coloque em causa a integridade física dos agentes desportivos ou de qualquer outra pessoa, tudo o que sejam manifestações de intolerância, têm que ser erradicadas com firmeza e mão (muito) pesada.
Há muito que o desporto português passa para o exterior uma imagem de impunidade e a responsabilidade maior não é apenas de quem se presta a ser delinquente num qualquer pavilhão ou estádio. É sobretudo de todas as pessoas e/ou instituições que têm responsabilidades acrescidas e acabam por dar o pior dos exemplos, muitas vezes assumindo deliberadamente o papel de rastilho.
Isso é inadmissível. Não pode nem deve ser.
Que nunca falte a voz às APCVD deste país e que a sua competência e capacidade de trabalho seja contagiante a outras entidades com responsabilidade similar.