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Ranking dos árbitros: um modelo que precisa de transparência e máxima objetividade

Opinião de Duarte Gomes. O mundo da arbitragem está permanentemente sob escrutínio e toda a gente desconfia de quem anda lá dentro. Parte da responsabilidade é da própria estrutura, que nunca abriu as portas de sua casa para mostrar que nada há a esconder (é assim há décadas).

Duarte Gomes

As classificações dos árbitros C1 (os da 1ª Categoria Nacional) foram publicadas esta semana pelo Conselho de Arbitragem da FPF. É importante que se perceba que o ranking dos árbitros obedece a critérios pré-definidos.

É compreensível que, para a opinião pública, esta classificação nem sempre coincida com a sua perceção de qualidade ou mérito, mas a verdade é que essa visão está geralmente ligada aos jogos que acompanham com mais frequência. É também verdade que pode estar influenciada pelo "fator emocional", que as impede de olhar para tudo isto com maior distância e neutralidade.

Além disso, o foco dos adeptos e da esmagadora maioria das pessoas está direcionado para o processo de decisão. Claro que acertar é o mais importante, mas é preciso que se perceba que, para além desse, a avaliação assenta noutras variáveis como a qualidade da condição física, a gestão emocional, o controlo global do jogo, o trabalho de equipa, a segurança, personalidade, movimentação, colocação, etc, etc.

Outro aspeto a considerar: os árbitros não dirigem apenas os jogos mediáticos que veem na televisão. Ao longo da época, há os que arbitram mais de 40, se somarmos todas as competições (1ª Liga, 2ª Liga, Taça de Portugal e Taça da Liga).

Em todas são avaliados, o que quer dizer que o mais importante para o sucesso das contas finais é a consistência. Tal como acontece com os clubes.

Mas há mais.

Eles também são avaliados em provas físicas, escritas e de inglês, que decorrem várias vezes ao longo da época. Todas têm uma valoração que pesa nas contas finais. Há ainda a questão da "medição de pregas", que avalia a massa corporal de cada um e confere bonificações ou penalizações em função dos resultados obtidos.

No final, todos os dados são englobados, devidamente ponderados e redundam na classificação oficial.


Estas regras são públicas e podem ser consultadas no site da FPF (Regulamento de Arbitragem).

Não há sistemas classificativos perfeitos e este também não é. Nunca nenhum foi.

Talvez seja por isso que na maioria dos campeonatos internacionais (incluindo provas da FIFA e UEFA) não há classificações. Os árbitros entram, saem ou permanecem por convite da sua estrutura. Todos acatam, todos respeitam, ninguém questiona.

Por cá esse salto cultural é impossível por enquanto.

O mundo da arbitragem está permanentemente sob escrutínio e toda a gente desconfia de quem anda lá dentro. Parte da responsabilidade é da própria estrutura, que nunca abriu as portas de sua casa para mostrar que nada há a esconder (é assim há décadas).

De facto, a única forma eficaz de tentar combater esse estigma é essa: a da transparência de processos e da máxima objetividade em tudo o que é relevante. Tudo tem que ser evidente, mensurável e claro para todos.

Talvez assim a arbitragem conseguisse blindar a ideia errada e quase perversa de que as classificações agora publicadas foram feitas de fora para dentro.

Não foram.


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