A fotografia publicada nos media mostrava-o junto dos demais adeptos, o que causou polémica, por haver receio que esse juiz fosse nomeado para jogos dessa equipa, em momento relevante para a atribuição do título de campeão.
É mau, muito mau, que por esta altura a arbitragem não tenha ainda conseguido passar, com sucesso, mensagem fundamental aos seus principais agentes.
Para que fique claro:
- Quase todas as pessoas que gostam de desporto têm um clube de eleição. São adeptos, simpatizantes ou seguem apenas os seus resultados. É normal.
Eu tenho clube, que assumi desde sempre. Os meus amigos, colegas, vizinhos, parentes e conhecidos também. De novo, está tudo bem, está tudo certo.
Mas - e há sempre um mas - é preciso que se tenha "dois dedos de testa", que é como quem diz, é preciso que se perceba o contexto em que estamos inseridos e a imagem que temos obrigatoriamente que defender.
Nesta matéria, qualquer árbitro, juiz ou cronometrista desportivo deve ter sempre em atenção duas premissas fundamentais:
1 - O de saber separar, a toda a hora, gosto pessoal de compromisso profissional. O que eu aprecio pessoalmente é uma coisa, o que me move profissionalmente é outra. Qualquer jogador, treinador ou jornalista tem equipa e não permite que isso belisque a sua entrega, seriedade e isenção. Com os árbitros é exatamente igual;
2 - Tão ou mais importante do que isso é saber cuidar da imagem, para não criar falsas perceções para o exterior. A um árbitro exige-se neutralidade, equidistância e discrição. Não basta ser, é preciso parecer, seja em campo, no ringue, na pista ou em casa, em lazer ou de férias.
Um juiz sensato e inteligente não pode nunca expor-se em estádios e pavilhões, com cachecol ao pescoço ou a vibrar com golos desta ou daquela equipa.
Um juiz sensato e inteligente tem que perceber que, aos olhos dos outros, não é um cidadão comum. Não é o João, o Carlos ou o Zé.
É o árbitro! O senhor árbitro!
Isso acarreta responsabilidades enormes. Exige-lhes ética, distanciamento e maturidade emocional, a toda a hora, a todo o tempo.
Quando ouço dizer que há árbitros a criticarem colegas publicamente ou a exporem nas redes sociais as cores do seu coração, percebo o longo caminho que ainda temos a percorrer para os ensinar de vez ou mandar embora desta casa.
Não pode ser. Nunca pode ser!
O mundo de hoje assenta muito em perceção e não é razoável que exista um único árbitro que ainda não tenha percebido isso.
Enquanto isso não acontecer e enquanto andarem a agir como se fossem cidadãos comuns (para efeitos de imagem pública, não são), não é apenas o seu bom-nome e honra que serão atropelados publicamente; será sobretudo o bom-nome e honra da classe que representam. E isso não pode ser.
Ninguém está acima da instituição. Quem acha que está (e tem esse direito), que saia já.
Desses não queremos nós.