Cultura

Sessão de Cinema: “O Homem que Veio do Espaço”

Homem da música sempre fascinado pelo fantástico e pela tradição da ficção científica, David Bowie interpretou um “alien” que vem à Terra procurando ajuda para salvar o seu próprio planeta…

David Bowie em visita ao planeta Terra: ficção científica com data de 1976

João Lopes

Em meados da década de 70, a trajectória musical de David Bowie (1947-2016) não era estranha a um certo gosto fantástico ou fantasista, mais ou menos ligado ao imaginário da ficção científica. Aliás, neste ano de 2023 assinalaram-se os 50 anos do concerto final da sua “personagem” de Ziggy Stardust — um “alien” que visita o planeta Terra, tentando salvar os humanos do apocalipse —, pondo fim à aventura que começara em 1972 com o álbum “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”.

Não admira, por isso, que em 1976 o cineasta inglês Nicolas Roeg (1928-2018) tenha reconhecido em Bowie o intérprete ideal para uma aventura que se chama, à letra, “O homem que caíu na Terra” (“The Man who Fell to Earth”) — foi lançado entre nós como “O Homem que Veio do Espaço” e pode agora ser visto ou revisto graças ao streaming.

Dir-se-ia que estamos perante uma história “simétrica” do mundo de Ziggy Stardust. Bowie assume a personagem de Thomas Jerome Newton, nome muito humano (e também muito “british”!), mas que identifica um “alien”, afinal de aspecto terrestre. A sua viagem à Terra envolve uma missão muito particular, procurando garantir que os humanos partilhem água com o seu planeta…

Esta não é, entenda-se, uma produção típica das grandes sagas de ficção científica feitas com orçamentos gigantescos — lembremos o contraste com “2001: Odisseia no Espaço” (1968), de Stanley Kubrick, que, curiosamente, tinha sido filmado em Inglaterra, enquanto o essencial da rodagem de “O Homem que Veio do Espaço” decorreu nos EUA. Há mesmo no filme qualquer coisa do espírito das velhas produções de “série B”, valendo mais pela imaginação das suas soluções cenográficas e narrativas do que pela ostentação de recursos excepcionais.

Para lá do misto de subtileza e elegância com que Bowie assume a personagem central, não deixa de ser desconcertante que ele não esteja também ligado à banda sonora. O certo é que imposições contratuais impediam-no de contribuir musicalmente para o filme, sendo a partitura original da autoria de John Philips, que liderara o grupo The Mamas & the Papas — pontuam a acção algumas canções interpretadas, entre outros, por Louis Armstrong, Bing Crosby e Roy Orbinson.

Filmin

Últimas