Cultura

“Parque Jurássico” faz 30 anos: que herança?

Três décadas depois, o imaginário juvenil dos dinossauros não basta para explicar o impacto de um filme como “Parque Jurássico” — em boa verdade, Steven Spielberg conseguiu transfigurar os modelos tradicionais de espectáculo.

"Parque Jurássico" (1993), ou a eterna fábula dos humanos perante a Natureza
Murray Close

João Lopes

Sem querer ofender os fãs das exposições, brinquedos e BD de dinossauros, e com dinossauros, convenhamos que o seu imaginário popular (não necessariamente científico) parece francamente insuficiente para compreender o impacto de um filme como “Parque Jurássico”. Trinta anos depois — a estreia nas salas dos EUA ocorreu a 11 de junho de 1993 —, vale a pena sistematizar algumas ideias em torno daquele que, para todos os efeitos, continua a ser um dos títulos mais conhecidos da filmografia de Steven Spielberg.

Importa, sobretudo, recordar que o empenho com que Spielberg mobilizou os técnicos de efeitos visuais para representar os dinossauros de forma convincente (em volume e movimento) abriu um capítulo novo nas superproduções de Hollywood. Para o melhor, foram criadas condições cada vez mais sofisticadas para, no ecrã, fazer coexistir os humanos e as personagens virtuais; para o pior, os departamentos de efeitos especiais tomaram conta de muitos filmes, reduzindo-os a monótonas antologias de ostentação tecnológica — veja-se algumas sequelas de “Parque Jurássico” e, sobretudo, a rotina em que foram caindo os super-heróis com chancela da Marvel ou da DC Comics.

Adaptando o romance homónimo de Michael Crichton, Spielberg definia como assunto prioritário a “convivência”, na mesma imagem, dos seus actores com os dinossauros [observe-se o video com esse encontro primordial]. Ao mesmo tempo, semelhante proeza arrastava duas questões fundamentais. Em primeiro lugar, uma perplexidade face aos enigmas da Natureza que, como é óbvio, já marcava a sua obra desde “Tubarão” (1975); depois, a discussão das relações entre essa mesma Natureza e os trunfos, ora maravilhosos, ora maléficos, do progresso tecnológico.

Tudo isso basta para que, três décadas depois, “Parque Jurássico” continue a ser uma referência temática e cinéfila que não se reduziu a mera curiosidade museológica. Sem esquecer, já agora, que, apesar das rotinas das sequelas mais recentes, “Parque Jurássico” deu origem a uma continuação igualmente brilhante — chama-se “O Mundo Perdido”, surgiu em 1997, e tem assinatura de… Steven Spielberg!

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