Este ano, durante o verão, a Cinemateca Portuguesa volta a propor as suas sessões ao ar livre, aproveitando o espaço acolhedor que possui nas traseiras das suas instalações (na rua Barata Salgueiro, em Lisboa). É o “Cinema na Esplanada”, sempre às 21h45, com propostas muito diversificadas, em alguns casos dando a ver obras que integram ciclos mais vastos que estão a decorrer nas duas salas interiores que a Cinemateca possui.
É o caso da retrospectiva dedicada à actriz americana Joan Bennett (1910-1990). Alguns dos seus títulos serão exibidos na “Esplanada”, nomeadamente dois dos que resultaram da sua colaboração com o realizador Fritz Lang: “Man Hunt/Feras Humanas” (1941) e “Secret Beyond the Door/O Segredo da Porta Fechada” (1947), respectivamente nos dias 19 e 26.
Haverá cinema português, desde logo na primeira sessão, dia 15, com a apresentação da cópia restaurada de “A Balada da Praia dos Cães” (1987), de José Fonseca e Costa, precedida da curta-metragem “Fiesta Forever” (2017), de Jorge Jácome. Mais tarde, dia 17, acontecerá a ante-estreia de “Légua”, de Filipa Reis e João Miller Guerra, filme que esteve presente na Quinzena dos Cineastas, em Cannes.
A ter em conta também “The Conversation/O Vigilante” (1974), um clássico menos conhecido de Francis Ford Coppola [ver trailer], e várias memórias de Carlos Saura, incluindo o notável “La Caza/A Caça” (1966), uma das referências emblemáticas da produção espanhola da década de 60.
Para lá do sugestivo programa, importa sublinhar o delicioso anacronismo deste “Cinema na Esplanada”. Na verdade, como bem sabemos, mesmo em países em que o “drive-in” cinematográfico foi um fenómeno cultural e comercial muito forte (a começar pelos EUA), as projecções ao ar livre caíram em desuso. E, nesse aspecto, não há paralelismo possível entre as experiências dos espectadores das décadas de 50/60 e a actual relação que mantemos com as plataformas de “streaming”.
Por isso mesmo, mais do que um exercício meramente nostálgico, estas sessões da Cinemateca chamam-nos a atenção para a diversidade histórica do cinema — dos movimentos estéticos até às formas de difusão. E se é verdade que o cinema foi durante muitas décadas um fenómeno social (que o “streaming”, independentemente dos seus méritos, não pode repetir), não é menos verdade que assistir a um filme ao ar livre, numa noite de verão, ilustra uma ideia de comunidade que, mesmo de forma intermitente, vale a pena revalorizar.