Há pouco mais de um mês, o mais recente filme produzido, interpretado e realizado por Ben Affleck, “Air”, suscitou especial interesse nos meios cinematográficos por causa da respectiva estratégia de difusão: primeiro nas salas de todo o mundo, depois numa plataforma de "streaming". Foi, sobretudo, um sinal de que os grande estúdios parecem agora mais disponíveis para encontrar noivos equilíbrios entre os circuitos clássicos e a exibição virtual.
Dito isto, importa, sobretudo, valorizar o filme pelas suas qualidades cinematográficas. Estamos, de facto, perante uma verdadeira epopeia sobre aquilo que poderemos chamar a construção de um ícone cultural. Que é como quem diz: Michael Jordan, figura lendária do basquetebol dos EUA. Ou ainda: a criação, pela empresa Nike, em 1984, das sapatilhas “Air Jordan”.
Jordan, em qualquer caso, não chega a ser uma personagem do filme — em boa verdade, surge apenas durante alguns minutos, sempre filmado de costas. Sonny Vaccaro e Phil Knight, interpretados, respetivamente, por Matt Damon e o próprio Affleck, são as figuras centrais: o primeiro é um “caçador de talentos” do mundo do basquetebol; o segundo, fundador e diretor executivo da Nike, seria decisivo na criação das “Air Jordan”, mesmo se, de início, resistiu às sugestões nesse sentido do seu amigo Vaccaro…
O que distingue “Air” de uma banal “reconstituição” dos factos é o seu empenho em dar a ver as múltiplas relações entre as dinâmicas financeiras e os valores culturais, ao mesmo tempo valorizando a complexidade das suas personagens. Daí a importância de um elenco de intérpretes capaz de sustentar as muitas e inesperadas nuances emocionais das relações entre as personagens. Além de Affleck e Damon, é forçoso destacar a presença de Viola Davis, no papel de Deloris Jordan, mãe de Michael, mais uma composição exemplar do seu requintado talento.