Cultura

Uma semana antes dos Óscares…

Quem vai ganhar os Óscares? Para lá das inevitáveis previsões, talvez fosse mais interessante revalorizar o espectáculo e os prazeres da cinefilia…

"Ice Merchants", de João Gonzalez, nomeado na categoria de melhor curta-metragem de animação

João Lopes

Quem vai ganhar os principais prémios dos Óscares a atribuir daqui a uma semana (mais exactamente na madrugada de 12/13 de março)? A pergunta envolve a nossa natural curiosidade, mas também uma sempre curiosa questão estrutural: como é que Hollywood avalia o "estado das coisas" no mundo do cinema?

Convém esclarecer que recuso observar os Óscares como se tivessem a "obrigação" de satisfazer os meus próprios juízos de valor… Essea é uma forma de infantilismo crítico que não nos conduz a lado nenhum. O que me interessa é tentar compreender como é que a indústria (e serão cerca de 10 mil pessoas dessa indústria a votar) vive o seu próprio presente, tanto mais complexo quanto estão longe de estar estabilizadas as tensões entre o circuito clássico das salas e as plataformas de streaming.

Previsões? A experiência diz-me que todas as previsões são humanamente falíveis, mas é um facto que as notícias sobre os Óscares que nos chegam dos EUA estão mesmo saturadas de previsões… cruzando-se com as mais diversas tabelas de favoritos, de um site "especializado" como o GoldDerby até referências emblemáticas do jornalismo cinematográfico como a revista Variety.

Ficamos a saber, por exemplo, que "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo", a aventura virtual de Michelle Yeoh realizada pela dupla Daniel Kwan/Daniel Scheinert, está na linha da frente para o Óscar de melhor filme do ano. Ou que Cate Blanchett, muito cedo apontada como vencedora "antecipada" na categoria de melhor actriz pela sua performance em "Tár", terá caído para o segundo lugar da lista de previsões, ultrapassada, precisamente, por Michelle Yeoh. Ou ainda que na categoria de melhor curta-metragem de animação — em cuja lista de nomeados está o português "Ice Merchants", de João Gonzalez —, todas as previsões apontam para a vitória de "The Boy, the Mole, the Fox and the Horse" [trailer aqui em baixo] , de Charlie Mackesy e Matthew Freud.

Tudo isto é especulativo e, em boa verdade, a meu ver, não muito interessante — se os Óscares se esgotarem numa bolsa de apostas, então a ideia de celebração do mundo do cinema reduz-se a um "complemento" sem grande importância. Uma coisa é certa: através de tais especulações (e também da lógica de resultados dos anos anteriores), dir-se-ia que os Óscares correm o risco de se tornarem numa "confirmação" dos prémios atribuídos ao longo das semanas anteriores, pelas "guilds" dos vários sectores profissionais ou as associações de críticos — como se, depois de um ano tão variado de filmes, tudo se resumisse à repetição dos mesmos dez ou vinte títulos…

Claro que os Óscares são também um espectáculo, este ano com apresentação do regressado Jimmy Kimmel (depois do desastre que foi, o ano passado, a apresentação de Regina Hall, Amy Schumer e Wanda Sykes). Resta saber se o gosto e o prazer do "entertainment" conseguem resistir àquele efeito de "repetição & confirmação" que a temporada dos prémios tende a gerar. Francamente, do meu ponto de vista, seria mais interessante investir na celebração e na surpresa… e deixar as previsões para depois do jogo.

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