Entre os filmes que estão na corrida para os Óscares, já disponíveis nas plataformas de streaming, “O Efeito Martha Mitchell” é, sem dúvida, um dos mais curiosos — e também mais desconcertantes. Nele encontramos o retrato da mulher de John N. Mitchell, Procurador Geral do Presidente Richard Nixon entre 1969 e 1972.
Nomeado para o Óscar de melhor curta-metragem documental, este é um filme que, habilmente, consegue construir uma narrativa apenas através de materiais de arquivo. Martha Mitchell (1918-1976) foi, afinal, uma protagonista inesperada da cena política de Washington, já que, quando explodiu o escândalo Watergate, ela não se calou…
Dito de outro modo: em vez de alimentar um silêncio que pudesse não comprometer ninguém, quer Nixon, quer o seu marido, Martha Mitchell tirou o máximo partido da sua condição pública — uma “socialite” que aparecia em todas as festas e eventos de prestígio em Washington — para proclamar o essencial. A saber: que era preciso esclarecer o escândalo e saber quem estava por detrás da conspiração republicana contra dos democratas.
Sabemos que as coisas não acabaram bem para Nixon. Mas sabíamos muito pouco sobre esta mulher que, entre o aparato social da sua condição e a simples coragem de exigir esclarecimentos da situação, desempenhou um papel singular na conjuntura política “made in USA” da primeira metade da década de 70.
“O Efeito Martha Mitchell”, co-assinado por Anne Alvergue e Debra McClutchy, é, afinal, um belo exemplo dos poderes de investigação e clarificação histórica que o cinema pode aplicar. Em paralelo, vale a pena referir que, também recentemente, Martha Mitchell foi objecto de uma abordagem ficcionada: a mini-série “Gaslit” (TVCine), protagonizada por Julia Roberts.