Cultura

Manoel de Oliveira quer financiamento de novos filmes como prenda de anos

Manoel de Oliveira chega aos 105 anos de idade formulando sempre o mesmo desejo, o de poder continuar a filmar com o ritmo  e a intensidade com que conseguiu fazer na segunda metade da sua longa vida.

(Lusa/Arquivo)
© Jean-Paul Pelissier / Reuters

Ainda em novembro, interrogado sobre os 105 anos que celebra na quarta-feira,  o mais velho realizador de cinema em atividade afirmou que o financiamento  do seu novo filme seria "uma forma de comemorar o aniversário", mas acreditava  que "o aniversário de certeza que ainda vem antes".

Assim foi. Ainda antes do anunciado financiamento para filmar "O Velho  do Restelo", chegou a data de aniversário, comemorada por várias instituições  da cidade do Porto.

No entanto o realizador mantém o seu otimismo. "Eu tenho a ilusão de  que não falta dinheiro", afirmou na altura, dizendo esperar que lhe seja  dado financiamento "para este e para outros" filmes.

Um voto renovado a cada ano, especialmente desde que o realizador, que  nunca foi um autor consensual, se revelou um fenómeno de produtividade,  apesar da idade e de uma carreira que só arrancou verdadeiramente na segunda  metade da sua vida.

O cineasta nasceu a 11 de dezembro de 1908, no Porto - embora o registo  fixe a data de nascimento no dia seguinte - no seio de uma família da alta  burguesia nortenha, sendo o seu pai o primeiro fabricante de lâmpadas em  Portugal.

Foi atleta, campeão nacional de salto à vara, corredor de automóveis  e viveu uma juventude de boémia em que se destacam as tertúlias no Café  Diana, na Póvoa de Varzim, com amigos como José Régio e Agustina Bessa-Luís.

Mas foi ao cinema que consagrou a sua vida, começando como ator num  filme de Rino Lupo, em 1928, e estreando o seu primeiro filme, a curta-metragem  documental "Douro, faina fluvial", em 1931.

A sua primeira longa-metragem de ficção só surgirá em 1942, "Aniki-Bobó",  que, apesar de hoje ser considerado um clássico, foi um fracasso comercial,  o que o terá levado a suspender a atividade cinematográfica, a que regressará  em 1963, com "O ato da primavera " e, no ano seguinte, " A caça", um filme  que lhe causou problemas com a polícia política.

Nova paragem até 1971, ano de "O passado e o presente", começando, a  partir daí e até hoje, a ter uma atividade constante no cinema, em que contabilizou  32 longas-metragens, entre as quais "Francisca", "Le soulier de Satin",  "A divina comédia", "Vale Abraão", "Belle Toujours", "Vou para casa" ou  "Singularidades de uma rapariga loura". "A igreja e o diabo foi o último  filme", no ano passado.

Premiado em inúmeros festivais de cinema, como Cannes e Veneza, foi  doutorado honoris causa por diversas universidades e é comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e das Artes e Letras Francesas.

Nos 80 anos de atividade cinematográfica, Manoel de Oliveira fixou um  percurso que é considerado fundamental na história do cinema português,  nem sempre consensual, nem sempre compreendido pelo público, mas quase sempre  unanimemente elogiado pela crítica.

Lusa

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