Saúde e Bem-estar

Parkinson: capoeira ajuda doentes a recuperar equilíbrio e qualidade de vida

Um grupo de doentes de Parkinson, no Rio de Janeiro, encontrou na capoeira, modalidade muito popular no Brasil, uma forma inovadora de tratamento complementar. Os participantes relatam melhorias no equilíbrio, na mobilidade e até na autoestima.

Elisa Macedo

Ana Isabel Pinto

A doença de Parkinson é uma condição neurodegenerativa crónica que afeta cerca de 200 mil pessoas no Brasil. Caracteriza-se sobretudo por tremores em repouso, rigidez muscular, lentidão de movimentos e instabilidade postural. Os sintomas não se limitam ao corpo: podem incluir alterações no olfato, distúrbios de sono, depressão e, em fases avançadas, declínio cognitivo. No bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, um grupo de especialistas decidiu enfrentar estes desafios de uma forma original: através da capoeira.

A iniciativa partiu da fisioterapeuta e instrutora de capoeira Rosi Peixoto, que desde 2017 introduziu os movimentos da roda como parte do acompanhamento de doentes de Parkinson.

Os relatos são encorajadores. Nilma Teles Freitas, de 80 anos, tinha quedas frequentes e fraturas. “Desde que comecei a treinar capoeira, sinto-me outra pessoa. Caminho com mais segurança e voltei a dar movimento ao meu corpo”, descreve em entrevista à Associated Press (AP).

Outro participante, António Azevedo, também com 80 anos, garante que a prática lhe devolveu a autonomia: “Um mês depois já melhorava a forma de andar e agora consigo caminhar 7 a 8 quilómetros sem problemas.”

Especialistas sublinham que o segredo está na combinação de ritmo, música e coordenação entre membros superiores e inferiores: “O compasso dos instrumentos permite prever os movimentos, ativando diferentes vias motoras do cérebro, o que pode compensar as áreas comprometidas pela doença”, explica à AP o neurologista Eduardo Nascimento, que acompanha o grupo.

Cada "ginga" devolve confiança e autonomia

De prática outrora discriminada pelas autoridades brasileiras, a capoeira transformou-se numa herança cultural global e, neste caso, num inesperado recurso terapêutico. Para os doentes, cada "ginga" é mais do que um passo: é um exercício de resistência, esperança e recuperação.

A "ginga" é o movimento fundamental que define toda a prática da capoeira. É um balanço contínuo e rítmico do corpo, o praticante move-se para frente e para trás, alternando os pés, mantendo os joelhos ligeiramente dobrados e o tronco em constante movimento.

"A capoeira é multifatorial. Os movimentos da capoeira são amplos e há uma alternância entre membros superiores e inferiores, braços e pernas, de forma sincronizada e coordenada", explica Rosi Peixoto à AP.

A fisioterapeuta desenvolveu uma técnica específica de treino para doentes de Parkinson. A instrutora gostaria de levar o projeto "Parkinson na Ginga" a outros pontos do país e quem sabe até mostrar ao mundo o efeito da capoeira em doentes de Parkinson.

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