Olhares pelo Mundo

Ativistas resgatam mais de 1.500 polvos de armadilhas ilegais na Grécia

Uma campanha internacional expõe a dimensão da pesca ilegal de polvos na Grécia, onde milhares de armadilhas estão a ser retiradas do fundo do mar.

Catarina Solano de Almeida

Ana Isabel Pinto

A organização Sea Shepherd, em colaboração com autoridades gregas, já retirou milhares de armadilhas ilegais e salvou mais de 1.500 polvos no Mar Egeu.

Os ativistas alertam que podem existir meio milhão de armadilhas no norte da Grécia e avisam que o problema se estende a Itália, Espanha e Portugal, numa altura em que a procura mundial por polvo está em alta e as alterações climáticas afetam os ciclos reprodutivos da espécie.

Desde o início de julho, os voluntários da Sea Shepherd, com o apoio das autoridades regionais, retiraram milhares de armadilhas e salvaram mais de 1.500 polvos, no navio Sea Eagle, numa tentativa de travar a pesca ilegal que ameaça as populações e aumenta a poluição nos mares gregos.

Ativistas e autoridades estimam que cerca de meio milhão de armadilhas para polvo estejam depositadas no fundo do mar no norte da Grécia, para alimentar a crescente procura deste molusco.

“Os números são absolutamente impressionantes. Nunca imaginámos que conseguiríamos recuperar tantas armadilhas. A distância é agora de cerca de 250 quilómetros… o que é muito, especialmente se considerarmos que a tripulação retirou manualmente 250 quilómetros de linha principal. Mas mostra que existe um grande problema e que há demasiada pesca”, afirmou à Reuters o Capitão Alex Cornelissen, CEO da Sea Shepherd.

Um problema no Mediterrâneo, mas também no Atlântico, como em Portugal

Alex Cornelissen sublinhou que a situação não é exclusiva da Grécia e do Mediterrâneo.

“As armadilhas ilegais são, de facto, um problema em todo o Mar Mediterrâneo. Também fizemos uma campanha em Itália, onde temos o mesmo problema. Agora na Grécia. Sabemos que Espanha tem o mesmo problema e também no Oceano Atlântico, em Portugal. Portanto, este é realmente um problema com a pesca do polvo em toda a Europa.”

A Grécia, no entanto, parece ser uma das áreas mais afetadas.

“Em qualquer lugar, é ilegal neste momento, mas aqui especificamente não devia haver armadilhas em qualquer altura do ano. O problema com estas armadilhas é que alguns pescadores acrescentam mais todos os anos, tornando a linha cada vez mais comprida e difícil de recuperar. E deixam-nas todo o ano, o que não devia acontecer”, explicou Cornelissen.

Segundo o responsável, o respeito pelas regras é essencial:

“Deviam retirá-las no final de junho e só voltar a colocá-las no início de outubro. É muito importante que este período seja respeitado porque é a época de reprodução do polvo. Se continuarem a pescar durante esse tempo, isso afetará a população e a sua reprodução.”

Como funcionam as armadilhas

Os pescadores atraem os polvos com potes de plástico ou barro, presos ao fundo do mar com pedras. As armadilhas em forma de barril simulam tocas onde os animais gostam de se abrigar e de cuidar dos ovos. Estão amarradas a longas cordas ligadas a boias.

Na Grécia, este método é proibido ou restrito durante a época de reprodução. Mas, em vez de retirar as armadilhas no verão e recolocá-las no outono, alguns pescadores acumulam linhas há anos.

A tripulação do Sea Eagle já recuperou 288 quilómetros de linha. As armadilhas deveriam ter identificação do proprietário, mas a maioria está coberta de crostas e sem etiquetas.

As armadilhas de plástico são também o lixo mais abundante retirado do Mar Egeu, de acordo com um estudo recente da organização ambiental iSea. Muitas desfazem-se quando são puxadas à superfície, aumentando ainda mais a poluição.

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