Durante a gravidez, o corpo da mulher passar por várias transformações e, em algumas situações, o organismo pode ficar mais debilitado. Sinais como o cansaço, enjoos ou muito sono são considerados comuns, e não apresentam risco, mas há outros que pode sim representar um risco e, como tal, não devem ser ignorados.
Falamos da Síndrome Antifosfolipídica (SAF), uma doença autoimune que produz anticorpos que atacam o próprio corpo. No caso de mulheres grávidas, "estes anticorpos aumentam o risco de formação de coágulos no sangue (tromboses) nas veias ou artérias e podem também causar complicações na gravidez", começa por explicar, em declarações à SIC Notícias, o médico reumatologista e membro da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, Vítor André Silvestre Teixeira.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da SAF é feito através da combinação de critérios clínicos, isto é, "se a pessoa já teve tromboses ou complicações específicas na gravidez" e a presença repetida "em pelo menos 2 ocasiões, com 12 semanas de intervalo", de anticorpos específicos da doença no sangue, "conhecidos como anticorpos anti-fosfolipídicos".
A boa notícia é que existe tratamento. O reumatologista explica que, para pessoas com trombose, o tratamento mais utilizado é a anticoagulação prolongada com varfarina. Mas atenção, a varfarina é um medicamento que não pode ser administrado durante a gravidez. Nestes casos, "a terapêutica recomendada pode incluir uma combinação de aspirina em baixa dose e heparina injetável".
Vítor Teixeira revela que há ainda "caos mais difíceis" em que são utilizados outros medicamentos.
Em suma, o tratamento vai depender sempre do tipo manifestações clínicas e da "coexistência de outras doenças autoimunes como o Lúpus Eritematoso Sistémico e de fatores de risco cardiovascular".
Quais os riscos para a grávida e para o feto?
O reumatologista explica que nas mulheres grávidas com SAF, existe "maior risco de morte do feto", abortos de repetição e tromboses nas mães. Além disto, há também a possibilidade de a mulher vir a desenvolver pré-eclâmpsia, que, de acordo com o especialista, "deve ser suspeita em mulheres que desenvolvam durante a gravidez tensão alta, inchaços, dores de cabeça fortes ou visão turva".
Em relação aos bebés, estes podem nascer prematuros ou com baixo peso.
Por isso, alerta, "é fundamental o planeamento familiar e o acompanhamento médico próximo durante a gravidez e o pós-parto".
"Os sinais de alerta incluem, além dos riscos referidos anteriormente, antecedentes de tromboses não provocadas e antecedentes de Lúpus Eritematoso Sistémico. Estas doentes devem ser testadas para anticorpos antifosfolipídicos idealmente antes da gravidez, para garantir um diagnóstico e tratamento atempado", afirma Vítor Teixeira.
A Síndrome Antifosfolipídica é uma doença mais frequente em mulheres, mas também afeta homens. Normalmente é diagnosticada em adultos jovens e de meia-idade, mas também atinge crianças e idosos.