Olhares pelo Mundo

Mulheres iranianas desafiam restrições e conduzem motos sem carta

Apesar de lhes ser negada a carta de condução, cada vez mais mulheres iranianas conduzem motos, desafiando as restrições impostas pela República Islâmica.

Catarina Solano de Almeida

Ana Isabel Pinto

Sem lei oficial que as proíba, mas com pedidos sistematicamente rejeitados pelas autoridades, as mulheres iranianas recorrem cada vez mais aos motociclos para circular nas cidades. Para muitas, trata-se de uma luta pelo direito à liberdade e à igualdade.

No Irão, não existe uma lei que proíba oficialmente as mulheres de obter carta de condução para motociclos. Porém, na prática, os pedidos são constantemente recusados. As autoridades alegam preocupações religiosas, dizendo que conduzir motos viola os códigos islâmicos de modéstia por poder revelar a figura feminina.

Apesar disso, são cada vez mais as iranianas que se arriscam a conduzir motociclos. Fazem-no por razões diversas: desde deslocações no dia a dia até ao trabalho ou como estafetas de alimentos e encomendas em centros urbanos congestionados. As penalizações vão desde coimas até prisão, embora esta última seja rara.

"O futuro das mulheres que conduzem motos é como o de conduzir automóveis. Atualmente, as mulheres estão realmente a conduzir muito bem. Não creio que conduzir motociclos seja um problema - podemos fazê-lo de forma legal, podemos ter as nossas cartas de condução e, tal como conduzir automóveis ou realizar outras atividades, podemos definitivamente fazê-lo", afirmou à Reuters Farah Ahmadi, motociclista iraniana de 34 anos.

As autoridades policiais já reconheceram que algumas regulamentações terão de ser revistas para permitir a emissão de cartas para mulheres.

O tema surge num contexto de forte contestação social no Irão. Os protestos em massa de 2022 e 2023, desencadeados pela morte de Mahsa Amini – acusada de violar o código islâmico de vestuário – intensificaram as exigências por mais liberdade e igualdade de direitos.

Para muitas mulheres, a luta por conduzir motociclos vai muito além da mobilidade: representa a reivindicação do direito a viver numa sociedade mais livre e com as mesmas oportunidades que os homens.

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