Mundo dos Animais

Austrália aprova primeira vacina contra a clamídia em coalas

Esta inovação é crucial para a conservação da espécie, declarada como ameaçada em 2022.

Catarina Solano de Almeida

Ana Isabel Pinto

A primeira vacina contra a clamídia em coalas foi aprovada na Austrália e vai começar a ser usada em todo o país. Os cientistas acreditam que poderá travar uma das principais ameaças à sobrevivência do marsupial.

Cerca de metade dos coalas de Queensland e Nova Gales do Sul são afetados por esta bactéria que provoca infertilidade, cegueira e elevada mortalidade. A nova vacina, de dose única, reduz a taxa de mortes nas populações selvagens em mais de 65% e está pronta para ser distribuída em hospitais, clínicas e no terreno.

Os testes mostraram que a vacina reduz a mortalidade das populações selvagens em pelo menos 65% e diminui o risco de desenvolvimento da doença durante a época de reprodução.

Uma doença devastadora

A clamídia, que também atinge os seres humanos, é responsável por até metade das mortes de coalas na natureza. A bactéria pode causar cegueira, infeções da bexiga, infertilidade e morte.

As taxas de infeção entre coalas em Queensland e Nova Gales do Sul rondam frequentemente os 50% e, nalguns casos, chegam aos 70%. Detetada pela primeira vez há cerca de 50 anos, a doença dizimou populações inteiras ao longo das décadas.

Durante anos, os antibióticos foram o único tratamento, mas prejudicavam a digestão dos animais e não ofereciam proteção contra novas infeções.

Coalas em risco de extinção

O governo australiano declarou os coalas da costa leste como espécie ameaçada em fevereiro de 2022. Atualmente, o país alberga apenas algumas centenas de milhares destes marsupiais, contra os milhões que existiam antes da chegada dos colonizadores europeus no século XVII.

Em Queensland, um programa que combinou a vacina em fase de teste com medidas de controlo de tráfego e proteção contra predadores permitiu que uma população, que se previa desaparecer em dez anos, voltasse a crescer.

Como funciona a vacina

Samuel Phillips, investigador em microbiologia clínica da Universidade de Sunshine Coast, explicou à Reuters o desenvolvimento do projeto:

"Ao longo dos últimos 15 anos, a equipa de Peter Timm desenvolveu uma vacina contra a clamídia para os coalas. É uma injeção única que tem como alvo três proteínas diferentes da bactéria, induzindo uma resposta alargada. Assim conseguimos visar os três tipos principais que infetam coalas em Queensland e Nova Gales do Sul. É combinada com um adjuvante único, que permite que seja de dose única, evitando capturar os coalas várias vezes para levá-los aos hospitais".

Segundo o investigador, os efeitos secundários são raros e ligeiros:

"É uma injeção subcutânea. Registámos algum inchaço localizado em menos de 1% dos coalas, que desapareceu ao fim de alguns dias."

Phillips sublinhou que a vacina é apenas parte da resposta para a conservação desta espécie:

"Esta é mais uma ferramenta na caixa de ferramentas para a conservação dos coalas. É óbvio que existem múltiplos fatores que afetam as populações, incluindo a desflorestação, incidentes de trânsito e ataques de cães domésticos. Mas a clamídia é certamente uma grande ameaça. Cerca de 50% dos coalas em Queensland e Nova Gales do Sul estão infetados, e esta vacina ajuda a limitar o desenvolvimento da doença, que pode levar à infertilidade e à cegueira."

A equipa prepara agora a disponibilização das primeiras doses para serem distribuídas pelo país.

"Estamos atualmente a desenvolver até 500 doses para serem lançadas no final deste ano, início do próximo. Mas o que realmente precisamos é de mais financiamento para produzir lotes maiores e levá-los para onde são necessários. Já recebemos telefonemas de hospitais de animais selvagens a pedir a vacina. Estimamos que serão necessárias pelo menos 1.000 a 2.000 doses por ano, sem contar com o programa que tenta proteger as populações em risco de extinção. O nosso plano é garantir que, sempre que um coala é capturado, possa ser vacinado sem custos para o projeto ou para o hospital".

Apesar do avanço, a vacina tem restrições, explica o cientista:

"É apenas para coalas saudáveis. Testámos como vacina terapêutica e obtivemos alguns resultados contraditórios, por isso ainda estamos a trabalhar nessa parte. Se os coalas estiverem infetados, precisam de ser hospitalizados e tratados com antibióticos. Depois podem ser vacinados, o que limita o desenvolvimento da doença em futuras infeções. Esta vacina não é ótima para impedir que contraiam clamídia, mas evita que desenvolvam a doença, responsável pela infertilidade e pelo declínio populacional".

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