Economia

Fitch baixa notação da dívida francesa para A+ devido à instabilidade política

Instabilidade política e incertezas orçamentais comprometem o saneamento das suas contas públicas, que a Fitch considera muito degradadas.

Lusa

A agência de notação financeira Fitch baixou a nota atribuída à divida soberana francesa para 'A+', sancionando a França pela instabilidade política e pelas incertezas orçamentais, que comprometem o saneamento das suas contas públicas, que considera muito degradadas.

A abrir a série de revisões de outono dos 'ratings' destas agências, a Fitch divulgou na sexta-feira uma apreciação severa das finanças públicas da segunda economia da Zona Euro, quatro dias depois da queda do governo de François Bayrou e da designação de um novo primeiro-ministro, Sébastien Lecornu, o terceiro em um ano.

"A queda do governo ilustra a fragmentação e a polarização crescente da política interna", considerou a Fitch, em comunicado.
"Esta instabilidade enfraquece a capacidade do sistema político a avançar com uma consolidação orçamental ampla", acrescentou, considerando improvável a redução do défice abaixo do equivalente a três por cento do produto interno bruto (PIB) em 2029, como ambicionava o governo que caiu, para colocar a França nos objetivos europeus.

O novo primeiro-ministro, nomeado na terça-feira, está em contrarrelógio para apresentar um projeto de orçamento para 2026 que possa escapar ´+a censura das oposições.

Até agora, a França tinha uma nota superior em um nível ('AA-'), complementada com uma perspetiva negativa, o que abrir a porta à sua revisão em baixa. A nova notação foi complementada com uma p+respetiva estável.

As finanças públicas francesas estão entre as mais deterioradas da Zona Euro, com uma dívida pública equivalente a 113,9% do PIB no final de março (3,345 mil milhões de euros) e uma previsão do governo Bayrou de défice para 2025 de 5,4% do PIB.

O crescimento económico previsto é de 0,8%, mas a economia padece de uma crise de confiança generalizada, segundo o instituto de estatística INSEE.

Pessiistam, a Fitch espera que a dívida pública continue a subir e atinja os 121% do PIB em 2027, "sem horizonte claro de estabilização nos anos seguintes", o que reduz a sua capacidade de resposta a eventuais choques económicos.

Mais a curto prazo, a agência estima que a aproximação da eleição presidencial em 2027 vá reduzir ainda mais a margem de manobra em favor de um saneamento das contas públicas e receia que o bloqueio política persista depois.

Assim, depois dos 5,5% que espera em 2025, a Fitch prevê um défice superior a cinco por cento em 2026 e 2027, enquanto governo cessante previa 4,6% em 2026.

A descida da nota, que mede a capacidade da França de reembolsar a sua dívida, é relevante para a França, mesmo que tenha poucas consequências imediatas.

Ao atribuir à França uma nota de 16 em uma escala de zero a 20, a Fitch colocou-a em uma categoria inferior, que designa por 'média superior', abaixo da 'boa ou alta' em que estava.

Uma consequência pode ser a de os credores alienarem as suas posições nos títulos de dívida pública, em troca de colocações menos arriscadas, causando uma subida da taxa de juro que a França paga pelo seu endividamento.

Isto agravaria os juros pagos pela França, estimados em cerca de 55 mil milhões de euros em 2025, ao passo que desde a dissolução da Assembleia Nacional, em junho de 2024, que a divida francesa é negociada a uma taxa superior à alemã e na terça-feira chegou mesmo a passar a italiana.

Esta descida da nota é a segunda que a Fitch faz depois de abril de 2023, quando invocou as fortes tensões sociais ligadas às mudanças nas reformas.

A Moody revelará a sua opinião em 24 de outubro e a S&P em 28 de novembro.

As notas atribuídas por estas agências estão em 'AA-' ou equivalente, com perspetiva negativa no caso da S&P.



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