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"Passei a noite com os mortos, depois comecei a rastejar": o relato arrepiante de quem sobreviveu a uma vala comum

Vladyslav sobreviveu à tortura e a uma tentativa de execução em Donetsk. O soldado ucraniano recupera agora em Dnipro e, porque não fala, escreve a sua história. O relato pode chocar, mas a família defende que a brutalidade do que viveu deve ser contada.

SIC Notícias

Vladyslav sorri, reencontrou finalmente a mulher e o irmão. Com gestos garante que não vai desistir. Em agosto, durante intensos bombardeamentos em Myrolyubivka, Donetsk, foi capturado pelas forças russas e levado para um porão.

"Havia muito sangue. Estávamos de joelhos, amarrados. Interrogaram-nos. Cortaram lábios, órgãos genitais e orelhas. Também me cortaram um pedaço da orelha."

Vladyslav foi o oitavo na linha de tortura. Com a garganta cortada, foi dado como morto e enterrado com os outros numa vala comum coberta de lixo.

"Consegui cortar as cordas que me prendiam com uma garrafa"

"Passei a noite com os mortos. Depois consegui cortar as cordas que me prendiam com uma garrafa partida e comecei a rastejar. Pouco a pouco, consegui sair."

A mulher, Victoria, soube do desaparecimento a 13 de agosto, mas nunca perdeu a esperança.

"O Vlad é tão ágil, tão forte, deve ter-se escondido."

O que se seguiu é considerado um milagre pelos médicos.

"Não posso mostrar a imagem. É mais chocante do que se pode imaginar. Ele começou a rastejar, cobrindo a garganta com restos de roupa. Durante quase cinco dias sem água, teve de apanhar ratos, rasgá-los e beber o sangue para matar a sede."

Regressar para vingar a morte dos companheiros

Vladyslav celebrou o 33.º aniversário nos cuidados intensivos de um hospital em Dnipro. Pediu para ver a filha por vídeo. Ela reconheceu-o e acenou-lhe. Mandaram corações um ao outro. No fim disse à avó que não quer brincar com ele porque está cheio de pensos.

Apesar das lesões graves, os médicos acreditam que poderá recuperar totalmente. Enquanto não consegue falar, escreve tudo o que viveu, incluindo a descrição dos homens que o torturam. Quer regressar ao exército o mais depressa possível, para vingar a morte dos seus companheiros.

Até lá, espera poder usar a voz para desejar feliz aniversário à filha, que fará, em breve, 5 anos. Quando lhe perguntam como conseguiu resistir ao impossível, responde: "Tive sempre a minha mulher e filha diante dos olhos."

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