Saúde e Bem-estar

Maquilhagem em crianças (já) é um fenómeno mundial, Portugal não é exceção

O uso de produtos de beleza é cada vez mais frequente entre os mais novos. Nas redes sociais, há cada vez mais vídeos que mostram a rotina de milhares de crianças que, com pouco mais de 10 anos, não saem de casa sem estarem… maquilhadas. Os especialistas alertam para os riscos do uso de determinados produtos e das partilhas na Internet que chegam a somar milhões de visualizações.

Diana Pinheiro

Gonçalo Soares

Flávio Valente

“Adorava falar para o espelho e um dia comecei a gravar vídeos”. Foi assim, conta à SIC Carolina de 11 anos, que tudo começou. “Ela começou a querer ter os seus produtos, a fazer as suas skin cares e eu deixei”, acrescenta a mãe.

Produtos nem sempre acessíveis a todas as carteiras, e nem recomendados para todas as peles, sobretudo as mais jovens. A mãe de Carolina assume que o gasto é considerável: “Vou falar por baixo, devo gastar uns 100 euros por mês”.

Aos 11 anos, além da maquilhagem, Carolina tem também vários cremes para fazer duas vezes por dia a chamada skin care, uma rotina de cuidados com a pele quando acorda e quando se deita. “Primeiro utilizo o desmaquilhante, depois uma água termal, depois um sérum e depois os cremes próprios para a pele", conta.

“Normalmente tento procurar comprar marcas conhecidas, ver qual é o composto, tento a todo o custo que ela tenha produtos para a pele dela”, assegura a mãe.

A verdade é que, muitos dos produtos são compostos por ativos como ácido hialurónico, uma substância que ajuda a suavizar rugas ou linhas de expressão, mas usada, sobretudo, por adultos. Aliás, os especialistas defendem o uso só a partir dos 25/30 anos.

Um fenómeno mundial

O caso de Carolina não é único. Por todo o mundo, somam-se vídeos de pré-adolescentes e de adolecentes a mostrarem a maquilhagem diária de que não abdicam para sair de casa. Recorrem às redes sociais para partilharem as rotinas para milhares ou mesmo milhões de pessoas.

“Temos muitas crianças, acima de tudo raparigas, no que diz respeito à cultura do corpo, à maquilhagem, sabem os produtos todos de cor, muito mais até do que nós adultos. É de facto um sobreinvestimento na imagem, daquilo que que mostrar ao outro, e um bocadinho também à procura de se sentirem parte de um grupo”, diz a psicóloga Rute Agulhas.

Também Carolina criou uma conta nas redes sociais e em poucos meses chegou aos 130 mil seguidores. Uma exposição que nem sempre lhe traz comentários positivos. “Comentam que estes produtos não são para a minha pele, que na minha idade estavam a comer terra - este é o comentário que mais recebo -, para eu ir brincar com barbies - que eu brinco mas não em frente às câmaras”, desabafa Carolina.

“Esta questão dos comentários é importante. Muitas vezes esses comentários são muito negativos e estamos a falar de crianças que não têm maturidade para conseguir processar esses mesmos comentários. (…) Um conjunto diversos de situações que pode levar a quadros mais depressivos, ansiosos”, alerta a psicóloga.

E a mãe está atenta. A conta de Carolina é todos os dias, mais do que uma vez, supervisionada pela mãe: “Não só meti que a conta é supervisionada por mim, como tenho a conta dela no meu telemóvel, quando cai o vídeo posso dizer que é quando começam os primeiros comentários e posso dizer que em 30 segundos, ela está com mais de 100 mil visualizações e gostos, e depois tem 30 mensagens e eu vou lá para ver se tenho de apagar alguma coisa. Essa é a minha maior preocupação”.

Porém, para a psicóloga Rute Agulhas, a exposição de uma criança na internet pode ser perigosa.

“Uma vez na internet, para sempre na Internet. Por vezes, esta ideia é esquecida e há uma falsa sensação de controlo. Nós não controlamos o que os outros fazem com aquilo que publciamos. A partir do momento em que é partilhado um conteúdo, os outros fazem o que quiserem (…) Uma noção de perda de controlo que uma criança muito nova não tem”, lembra.

Por dia Carolina passa, no máximo, três horas na internet. Enquanto não regressa à escola aproveita o restante tempo na piscina e a brincar.

Recentemente começou a ser contactada por marcas para ser patrocinada. Apesar dos receios, a mãe diz que neste momento a partilha diária dos vídeos, a maquilhar, a dançar ou a provar alimentos tem mais aspetos positivos do que negativos.

Apesar de estar a entrar num negócio tradicionalmnete de adultos, Carolina ainda não largou as brincadeiras típicas da idade. Vai entrar em setembro no sexto ano, ainda há poucas semanas celebrou o 11.º aniversário.

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