Turismo negro: há quem pague para ver a guerra com os próprios olhos
Carros destruídos, casas danificadas por projéteis e cercas crivadas de balas, esta podia ser a campanha de uma agência de viagens que promove o turismo de guerra. Na Ucrânia, as ofertas multiplicam-se. São já 12, as agências de viagens que propõem circuitos por todo o país.
Federico Cavalieri é um dos clientes. O suíço é programador informático e comprou um destes pacotes turísticos. Desde o início da invasão russa, tem seguido de perto as notícias e diz que quis testemunhar a destruição em primeira mão.
"Espero ver a ponte que foi crucial na defesa de Kiev. Torna-se mais real, não é o mesmo ver só as imagens."
A visita, acompanhada por um guia local, começou em Horenka, a aldeia com maior grau de destruição na região de Kiev. Durante a viagem de carro, o guia detalha as batalhas, os ataques e marcas do conflito, mesmo as que já não se veem.
"Eles repararam a cerca mas, como se pode ver, ainda existem alguns buracos na parte de betão e no portão."
Os turistas parecem dispostos a viajar centenas de quilómetros, mesmo no inverno, para visitar locais que são marcos da guerra. O roteiro da visita de Federico Cavalieri inclui Bucha, Irpin e Borodianka com paragens em locais onde morreram muitas pessoas e as imagens se tornaram virais.
Auschwitz e Chernobyl
O turismo negro não é uma novidade da guerra da Ucrânia. Muitos outros locais de tragédias, genocídios e desastres têm sido pontos de atração turística.
O campo de concentração nazi de Auschwitz, na Polónia, um dos maiores locais de memória da II Guerra Mundial, atrai todos os anos cerca de 2 milhões de visitantes. A zona de exclusão de Chernobyl, na Ucrânia, também foi popular entre os turistas.
“São visitas emotivas e muito difíceis”
Na Ucrânia, a maioria dos turistas é originária do Reino Unido, Alemanha, Estados Unidos e Canadá. Cada circuito de um dia custa o equivalente a cerca de 200 euros, uma viagem à linha da frente pode custar 1.900. Metade do valor pago pelos turistas é doado às Forças Armadas.
A Agência Estatal para o Desenvolvimento do Turismo defende a realização destas visitas, diz que são "históricas e educativas". O governo ucraniana está a desenvolver palestras de formação para guias e a criar locais oficiais de memória, como a Ponte Romanov em Irpin. Svitozar Moiseiev é um dos guias oficiais e não gosta que se fale de turismo negro na Ucrânia.
"Não diria que faço visitas guiadas que possam ser consideradas turismo negro. São visitas emotivas e muito difíceis. São relatos verdadeiros do que aconteceu aqui."
Pirâmides do Sudão: milhares de anos de História ameaçados pela guerra
Cada nação tem os seus heróis, História e mitos. No Sudão, o maior ponto de orgulho fica no deserto. O país tem mais pirâmides do que qualquer outro no mundo. Foram construídas pela civilização Núbia, rival do antigo Egito. Durante décadas, foram ignoradas ou relegadas para segundo plano. A descoberta da Pirâmide do faraó Núbio Taharqa atraiu a atenção dos arqueólogos.
A sul do complexo de pirâmides de Taharqa em Nuri, no norte do Sudão, há outro conjunto de pirâmides que é património mundial da
UNESCO. Meroë foi a última capital do reino Núbio de Cuxe.
A cidade real foi construída em 590 a.C. e governada por uma série de guerreiras conhecidas como "Kandakas", mulheres que foram símbolos de resistência, determinação e força.
Os topos das pirâmides de Meroë guardaram, durante milhares de anos, enormes quantidades de ouro. No século XIX, um explorador italiano rebentou-os com dinamite e roubou o tesouro.
O que acontece hoje no Sudão não é muito diferente da História. Uma guerra prolongada pelo poder acabou com o turismo e originou mais saques.
O Museu Nacional do Sudão foi invadido e saqueado pelo grupo paramilitar que tentou conquistar o país. Muitos outros locais históricos continuam a ser destruídos e saqueados todos os dias.
Em 2019, quando uma revolução derrubou o ditador Omar al Bashir, o nome Kandaka foi usado para descrever as jovens destemidas que enfrentavam a morte para marchar pela igualdade.
Hoje, por causa da guerra, o lugar que guardou a história das mulheres guerreiras está esquecido e vazio, como grande parte do Sudão.
Qual a idade certa para dar um smartphone ao seu filho?
Em Saint Albans, em Inglaterra, a maioria concorda com a ideia de não dar smartphones aos filhos antes dos 14 anos. O que começou como um grupo no WhatsApp, com alguns pais, cresceu para um movimento nacional chamado "Infância Sem Smartphones".
Eleanor tem 11 anos e frequenta a Escola Primária de Saint Albans, uma cidade no norte de Londres. Os pais deram-lhe um telemóvel, mas um smartphone não foi opção.
“Ser o único diferente, ninguém quer isso para o próprio filho, claro, mas, como pai, acho realmente importante tentar criar um movimento onde isto não seja visto dessa forma.”
O grupo defende que o uso de smartphones entre crianças e jovens pode causar problemas de concentração, vício comportamental e privação de sono. Razões suficientes para mais de 70 mil pais britânicos terem aderido ao movimento.
No próximo ano letivo, o uso de smartphones será proibido no 1.º ano do Ensino Secundário em muitas escolas do Reino Unido. Uma realidade que os alunos ainda não conseguem imaginar.