Jogo Aberto

Polémica no futebol francês: “De onde venho as mulheres não falam assim com os homens”

O jogador marroquino do Toulouse, Zakaria Aboukhlal, antes de recusar participar no movimento pelos direitos LGBTI promovido pela Liga francesa, protagonizou outro episódio, com “uma frase inadmissível” dirigida à vereadora do Desporto de Toulouse. O tema esteve em análise no programa Jogo Aberto.

CHRISTIAN HARTMANN

Mariana Saraiva

SIC Notícias

Quatro jogadores do Toulouse FC foram retirados da convocatória para o jogo de domingo, frente ao Nantes, depois de se recusarem a ter o nome associado à campanha contra a homofobia, promovida pela Liga francesa.

O clube francês, que ocupa a 13.ª posição do campeonato, explicou que alguns atletas não concordavam com “a associação da sua imagem às cores do arco-íris que representam o movimento LGBTI”, refere o clube em comunicado.

O marroquino Zakaria Aboukhlal, o maliano Moussa Diarra, o argelino Farès Chaibi e o bósnio Said Hamulic deram conta do sua recusa em participar no movimento depois do treino e o Toulouse explicou a situação referindo que “ existem 18 nacionalidades (...) no plantel profissional” e que “a abertura ao mundo faz parte integrante do ADN do clube. Os nossos jogadores são escolhidos pelas suas qualidades humanas, independentemente das suas crenças ou convicções”, diz o clube francês.


Este fim-de-semana, os jogadores da Primeira e Segunda Liga francesa usaram equipamentos com pormenores alusivos à campanha, nomeadamente nos números das camisolas.

A iniciativa aconteceu para assinalar o Dia Internacional Contra a Homofobia, Transfobia e Biofobia, celebrado a 17 de Maio, também um jogador do Nantes terá recusado participar no movimento, pelo que também falhou o jogo.

Após a partida frente ao Nantes, o extremo marroquino Zakaria Aboukhlal, um dos jogadores que recusou participar no movimento, pediu via Twitter, respeito pelas próprias crenças e esclareceu que não se considera a melhor pessoa para participar em tal iniciativa.

Punição ministra do Desporto

O Governo francês reprovou a atitude dos jogadores e exigiu uma punição para os envolvidos.

“O objetivo da campanha era passar uma simples mensagem contra a discriminação, algo essencial num país como a França, que defende e promove os direitos humanos. Por isso, os jogadores que se recusaram a fazer parte da iniciativa devem ser punidos”, vincou ao canal de televisão France 3, a ministra do Desporto francesa, Amélie Oudéa-Castera.

Para o comentador Luís Aguilar lutar contra a “homofobia ou racismo” não deveria ser necessário “usar um símbolo”. Aliás, para Aguilar “cada um deve ter direito a decidir os símbolos que quer ou não envergar”.

"Depois do episódio no Mundial do Qatar, onde a FIFA decidiu proibir os capitães que pretendiam usar a braçadeira com o arco-íris, há, agora, esta imposição “vinda do Governo francês” e mais tarde o clube francês decide insurgir-se contra os quatros jogadores que “não quiseram usar a camisola arco-íris”, contou o comentador.

“Não será através da proibição que a FIFA consegue igualdade de direitos e também não me parece que seja através da imposição (Governo francês) e do cancelamento de jogadores que se vá lutar contra a homofobia ou racismo”, explica Luís Aguilar.

Esta sucessão de episódios em relação a proibições e exigências sobre os direitos LGBTI, para o comentador é “um sinal dos nossos tempos, em que parece que alguém que não queira ter determinado discurso que não queira usar determinado símbolo é imediatamente visto como alguém que está do outro lado da barricada”.

O comentador concluiu dizendo que "não é através desta ditadura, que se vai conseguir lutar pelo que é verdadeiramente importante”.

“De onde venho as mulheres não falam assim com os homens”

Dias antes de se saber que Zakaria Aboukhlal recusaria participar no movimento pelos direitos LGBTI, teve outro episódio, com “uma frase inadmissível”.

O extremo marroquino é acusado de ter feito comentários inapropriados e misóginos dirigidos a Laurence Arribagé, vereadora do Desporto em Toulouse, a 30 de abril, na cerimónia de comemoração da conquista da Taça de França.

A vereadora pediu silêncio aos jogadores enquanto o técnico do Toulouse discursava ao que Aboukhlal terá respondido: “De onde venho as mulheres não falam assim com os homens”.

O comentador do Jogo Aberto, João Rosado considera uma frase inadmissível do marroquino, isto porque “ai é o próprio jogador, o próprio homem que já está a colidir com o respeito e está a desprezar (...) neste caso uma mulher”.

“Isso, para mim não tem a menor cobertura, não pode ser legitimado e acho que foi o episódio mais grave”, vincou João Rosado.

O comentador frisou que “toda a gente deve respeitar as crenças e convicções religiosas e se foi isso que baseou a atitude dos jogadores do Toulouse eu até consigo compreender, agora o resto eu não compreendo”, concluiu.

Entretanto o clube francês revelou, em comunicado, que afastou o internacional marroquino enquanto decorrem investigações internas para apurar os factos do episódio.

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