Tânia Ganho nasceu no ano de 1973, em Coimbra. É a mais nova de dois irmãos, filha do “senhor doutor”, figura respeitada na terra e a quem todos recorriam. Desde pequena que tem uma relação de “amor e ódio” com Coimbra. Sentia-se “claustrofóbica” porque tudo era campo e distante da realidade de Lisboa ou do Porto.
Começou a escrever aos 12 anos. E foi com a escrita que percebeu que lhe faltava mundo e horizontes. A cidade onde crescia era muito pequena.
“Queria entrar em livrarias e encontrar autores. O senhor do Círculo de Leitores ia lá a casa, sentava-se na poltrona e era uma animação. Sem ele nunca teria ouvido falar da maioria dos autores”.
Sobre a leitura, defende que é importante tirar das crianças a ideia da obrigatoriedade, porque, em qualquer idade, se nos disserem que uma coisa é obrigatória, nós fugimos a sete pés. Eu tenho 51 anos e fujo de alguma coisa que me obriguem”.
O receio de apagar as memórias de uma infância feliz
O pai era madeirense e a família passava as férias de verão na “ilha”. Era a altura do ano em que se sentia “livre”. A última vez que esteve no Funchal tinha 18 anos e confessa que nunca mais regressou com receio de encontrar outra terra, de “apagar” as memórias de uma infância feliz. “Uma infantilidade”, admite.
Em casa não havia conversas sobre política ou partidos, falava-se sim das figuras políticas. Tinha apenas um ano no 25 de Abril, mas cresceu com a memória do quadro com a fotografia da criança com um cravo na ponta da espingarda pendurado na parede da sala.
O pai sempre a incentivou a ter espírito crítico e hoje não escolhe partidos, nem clubes de futebol, prefere as pessoas com ideais.
“Eu não escolho nem partidos, nem clubes de futebol. Gosto de pessoas com ideias, do contraditório, de ouvir dois lados. Hoje é raro, porque já não se pode ser do outro lado ou ter os pés em dois campos”.
Tânia Ganho admite ainda que está “desiludida” com a política. “Há falta de fibra, de rigor, de grandes ideias, grandes estadistas. O 25 de Abril para todos desta geração significava aquele ideal e hoje há muito ativismo de sofá, em que as pessoas estão em casa e fazem posts nas redes sociais”.
Tânia Ganho é escritora, romancista e tradutora literária há mais de vinte anos. Estudou e deu aulas de tradução. Viveu em Londres, Hamburgo, Paris, entre outras cidades. É autora de vários romances, o último, “Apneia”, levou-lhe sete anos de escrita “penosa”.
Passou pela legendagem dos noticiários da SIC e descreve a experiência como uma fase importante onde aprendeu a trabalhar com rigor e disciplina.
Uma homenagem ao pai
“O Meu Pai Voava”, editado este ano, é o primeiro livro de memórias. É uma homenagem ao pai que morreu em fevereiro.
“Não foi um livro planeado. Escrevi meia dúzia de linhas para anunciar a morte do meu pai no Facebook e a partir desse momento não parei de escrever na minha cabeça. Isolei-me e escrevi durante dias, no final não sabia o que tinha escrito”.
“Há uma certa urgência quando alguém tão próximo nos morre, há aquela sensação de que nós próprios também somos finitos. Senti que tinha de publicar o livro e tinha de viver tudo agora, e não perder mais tempo com coisas acessórias e supérfluas”.
“Geração 70“ é uma conversa solta com os protagonistas de hoje que nasceram na década de 70. A geração que está aos comandos do país ou a caminho. Aqui falamos de expectativas e frustrações. De sonhos concretizados e dos que se perderam.
Um retrato na primeira pessoa sobre a indelével passagem do tempo, uma viagem dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão.