Nasceu em 1971, em Lisboa. Da infância recorda a família unida, o “bom ambiente” e as noitadas dos pais com os amigos a jogar às cartas e a discutir política. Os pais, muito jovens, eram uns “entusiastas” da mudança, conta.
“No 25 de Abril, o meu pai pôs as colunas da aparelhagem na janela para que todos ouvissem a Grândola Vila Morena.”
Tem a quem sair, o pai era economista e a mãe professora. Foram os primeiros licenciados da família, tinham bons empregos e uma vida confortável, mas sem grandes luxos. O “grande momento da semana” era a chegada da revista da Heidi. Nunca sentiu falta de nada, mas também nunca teve “tendência” para as Barbies. "Eu e a minha irmã não éramos muito exigentes, não fomos educadas para a lógica do consumo - porque não existia. Portugal era um país muito atrasado.”
É uma “acérrima” defensora do capitalismo e acredita que “herdou dos pais o equilíbrio e a consciência social”. Seguiu-lhes as pisadas e licenciou-se em Economia na Universidade Nova em Lisboa. Quando terminou não se sentiu “preparada” para o mercado de trabalho e decidiu ir para Londres estudar.
Estávamos em 1993, em Inglaterra doutorou-se em Finanças, na London Business School, e depois deu aulas na Universidade de Oxford, o seu primeiro emprego.
Nos 8 anos que por lá viveu descobriu “a pequenez” de Portugal. Viveu em várias residências e partilhou casa com alguns portugueses.
Nesta conversa com Bernardo Ferrão, recorda a experiência e lembra os dias e as noites que passava com os amigos nos pubs londrinos. Regressou mais tarde a Portugal, e em Lisboa passou pelo ISCTE e depois tornou-se na primeira mulher a assumir a presidência do ISEG. Na altura, recorda, uma escola com “pouca autoestima” e conotada “à esquerda”.
Apesar dos problemas nacionais, Clara Raposo revela-se “otimista”, mas reconhece as “carências” em vários setores. Aliás, diz mesmo que era bom que “a sociedade pensasse um bocadinho naquilo que de facto quer do Estado”.
Como ex-Dean do ISEG reflete também sobre a Educação e lamenta que os estudos superiores sejam hoje menos valorizados na folha dos ordenados: “continua a haver um prémio para os salários dos licenciados versus os não licenciados, mas agora esse prémio não é tão significativo”.
Mais: o país está a exportar o muito que faz na Educação: “os nossos salários são curtos em comparação com outros da Europa. Às vezes parece que somos uma barriga de aluguer. Investimos na educação e os jovens vão para fora”.
A vice-governadora do Banco de Portugal é a nova convidada do podcast Geração 70. Numa conversa conduzida por Bernardo Ferrão, deixa uma previsão e uma certeza. Acredita que não há “motivos para nova subida de taxa de juro”. E garante: “não programei a minha vida para chegar aqui.”