Apesar da proteção conferida pela lei em vigor, há vários casos de assédio laboral de mulheres que utilizam as horas de amamentação. Os especialistas alertam que, além de tudo o resto, há consequências na saúde mental das mulheres e crianças.
O caso de Inês: foi transferida para uma loja a duas horas de casa
Inês, nome fictício, regressou ao trabalho quando o filho tinha cinco meses. Amamentava e pretendia gozar o direito à redução horária. Começou a tentar contactar a empresa pelo menos um mês antes do regresso, mas sempre sem sucesso. Quando voltou, bastaram duas semanas para ver a vida virada do avesso.
"Nunca houve essa facilidade por parte deles, pelo que comecei a tirar as horas. Passado uns dias, veio a minha patroa e o marido dela, fecharam-me numa sala para me dizerem que eu ia deixar de trabalhar naquela loja", conta a mulher à SIC.
Inês foi transferida para uma loja que, de transportes públicos, ficava a duas horas de casa e da creche onde tinha entrado o filho. Além disso, alteraram-lhe o cargo que exercia para um de menor relevância.
"A única coisa que eu conseguia fazer era chorar compulsivamente. Não dormia, não conseguia realizar a minha atividade profissional... O meu mundo desabou completamente", recorda Inês.
Acabou por ir para casa por baixa devido a um esgotamento e meses depois, o contrato chegou ao fim. Não falaram sequer de uma renovação.
Inês fez queixa à Autoridade para as Condições de Trabalho e à Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego.
Mudou de de profissão e amamentou até aos seis anos, sempre sem gozar do direito à redução horária.
"As mulheres acabam por ficar muito fragilizadas. Estes esgotamentos estão muito associados a essas pressões externas, seja no local de trabalho ou em contexto familiar", explica Filipa Maló Franco, psicóloga especialista em perinatal e infantil.
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O caso de Margarida Martins: "Diziam que a equipa estava insatisfeita"
Também Margarida Martins foi alvo de pressões no local de trabalho. É enfermeira e trabalhava, à data, em meio hospitalar. Regressou ao serviço quando a filha tinha oito meses. Dois meses depois, empurraram-na para o turno que terminava entre as oito e as nove horas da noite. Acabou por pedir o horário flexível, o que só veio a aumentar a pressão laboral.
"Diziam-me que a equipa estava insatisfeita, porque eu tinha redução horária, estavam saturados de fazer os meus turnos da tarde e que criava mau ambiente na equipa", diz, à SIC, a enfermeira.
Meses depois, decidiu sair do hospital onde trabalhava, sobretudo para pôr fim ao assédio.
Com a mudança, a filha acabou por desmamar perto dos dois anos e meio. Margarida acredita que os dois acontecimentos estiveram relacionados.