O agente da PSP detido por recrutar pessoas para um grupo neonazi chegou a fazer parte das listas do Ergue-te à Assembleia Municipal de Lisboa. A ligação de polícias a partidos políticos é ilegal, mas isso não impediu que o Estado atribuísse ao agente uma medalha por comportamento exemplar. Está agora em prisão preventiva por crimes ligados a terrorismo.
Entre centenas de militantes haverá polícias, mas é na cúpula do Movimento Armilar Lusitano que a Judiciária encontra um em concreto.
Bruno Napoleão Gonçalves, agente da Policia de Segurança Publica. Será um dos mentores do grupo neonazi detido com este arsenal pensado para atacar figuras e símbolos do Estado.
O despacho do Ministério Público a que a SIC teve acesso indica que a liderança do movimento estaria entregue a três pessoas: Bruno Carrilho, motorista de pesados, Bruno Napoleão Gonçalves, o agente da PSP, e Tânia Lages, uma vigilante de um grupo de segurança privada.
O primeiro teria a função de encontrar candidatos para uma milícia armada. Avalia-los e apurar o nível de radicalização.
O agente da PSP faria a entrevista presencial, determinante para a entrada no grupo neonazi. O Ministério Público diz que selecionaram centenas de militantes e privilegiaram candidatos com conhecimentos no manuseamento de armas.
A SIC descobriu que a ideologia extremista do agente da PSP levou-o para a política.
Um documento de 2021 mostra que entre os candidatos à Assembleia Municipal de Lisboa indicados pelo Ergue-te, Bruno Napoleão Gonçalves surge em 15º lugar. O Estatuto da PSP impede a participação na política ativa. A Lei Orgânica dos partidos trava a inscrição ou filiação das forças de segurança.
Em 2021, Bruno Gonçalves estava nas listas do Ergue-te. No ano seguinte era reconhecido pelo Estado.
Outro documento mostra a lista de medalhas de comportamento exemplar da PSP referentes ao segundo trimestre de 2022. Bruno Gonçalves é reconhecido pelo comportamento exemplar com medalha de prata.
A Direção Nacional da PSP diz que desconhecia qualquer ligação do agente à política, que nada consta no processo individual. Lembra que a filiação é incompatível e que, além do processo disciplinar aberto pela Policia Municipal, também a Inspeção Geral da Administração Interna tem competências para o fazer.