Vários idosos que estão há décadas no parque de campismo da Areia Branca, na Lourinhã, dizem que estão a ser despejados. O parque era da câmara municipal, mas a exploração foi entregue a uma empresa privada.
Paulo Santos, Helena Chorão e Maria Adelaide moram no parque de campismo da Areia Branca, na Lourinhã, há mais de 30 anos. Agora, vão ser obrigados a sair, depois de o município ter decidido concessionar o parque.
“Já tenho 81 anos, não sou nenhuma criança. Estou desesperada por pôrem assim a gente na rua, como a um cão”, diz Maria Adelaide.
“Não tenho dinheiro porque o gastei aqui. Portanto, agora fico sem isto e sem o dinheiro e vou dormir para debaixo da ponte”, atira Helena Chorão.
“É indigno. Isto é uma violação aos direitos humanos e à dignidade de cada”, aponta Paulo Santos.
Com mobilidade reduzida e uma idade avançada, Paulo Santos não sabe, depois deste despejo, onde vai dormir.“Não tenho casa, não tenho família, não tenho ninguém. Não tenho sítio para ir, nem meios, nem condições.”
Autarquia diz que moradores não existem
A autarquia da Lourinhã fechou um contrato de concessão com a recém-criada empresa Moinho Fenomenal. Um negócio que os moradores dizem desconhecer. Depois da assinatura deste contrato, quem frequenta o parque terá de retirar os seus pertences até ao final deste mês. Um ato que os moradores dizem ser ilegal.
Na maioria, são pessoas de idade avançada, que, por falta de possibilidade financeira, encontraram aqui um lugar onde habitar. No entanto, para a autarquia, estes moradores não existem.
“O conceito de campismo não é residência”, afirma José Tomé, vice-presidente da Câmara Municipal da Lourinhã. “Há uma frequência das pessoas que fazem o pagamento deacordo com o que está estabelecido. Mas não há nenhuma relação contratual nesse contexto.”
Em resposta à SIC, a empresa agora gestora do parque, Moinho Fenomenal, afirma que “não existem moradores no parque de campismo".
"Os usuários em questão são usuários campistas, não residentes. Assim, com o encerramento temporário, os campistas ficarão apenas impedidos de usufruir do espaço durante o período de obras”, refere.
Alojamento alternativo só até junho
Em relação ao suposto apoio social a que estas pessoas têm direito, foi-lhes apenas proposto um alojamento temporário. A autarquia explica que ficariam nesse alojamento “até ao final do mês de junho”. “E depois estávamos por nossa conta e risco”, nota Paulo Santos.
Os campistas alegam existir uma relação promíscua entre funcionários públicos e o agora parque de gestão privada. A empresa concecionária garante que “a presença de colaboradores da Câmara Municipal no Parque prende-se exclusivamente com a atual fase de transição, sendo estes um apoio interno ao município”.
O grupo de residentes do parque pede agora ajuda jurídica, legal e do Ministério Público, para que se investiguem os contornos deste contrato, da expulsão de quem aqui morou e da forma como o processo está a ser gerido pela Câmara Municipal da Lourinhã.
Quem tem possibilidades vai retirando os seus bens. Mas são muitos os que prometem não arredar pé por aquilo que acreditam ser um direito essencial enquanto cidadãos.