João Matos Fernandes, ex-ministro do Ambiente e da Ação Climática, rejeitou esta terça-feira qualquer ligação entre o encerramento das centrais a carvão e o apagão que afetou Portugal e Espanha. “O lobi do carvão apareceu logo a dizer o que tinha a dizer, só que não tem razão nenhuma”, criticou, acusando quem aponta o dedo à transição energética de “tentar confundir as pessoas”.
Para Matos Fernandes, é “mentira pegada” culpar o encerramento das centrais a carvão pelo colapso da rede elétrica ibérica. “Em 2000 ou 2001, em Portugal, houve um blackout menos grave, mas que apanhou toda a metade sul do país e havia duas centrais a carvão em funcionamento”, recordou.
Em entrevista na SIC Notícias, o ex-ministro de António Costa disse que o apagão teve origem em Espanha e que, dada a interligação das redes, mesmo que Portugal não estivesse a importar eletricidade no momento, o desfecho teria sido o mesmo.
“Mesmo que estivéssemos a exportar energia para Espanha, o que aconteceu lá obrigaria a um apagão cá. Os sistemas estão preparados para desligar automaticamente quando expostos a tensões fora dos limites".
"Governo só chegou à noite quando a luz estava a chegar"
Apesar de considerar que a resposta técnica teria sido semelhante na sua altura, apontou falhas na comunicação do atual Governo.
“A resposta, do ponto de vista da serenidade e da comunicação com os portugueses, teria sido certamente mais robusta. Era essencial, desde o início - não necessariamente o primeiro-ministro, mas a ministra da tutela - vir dizer aos portugueses o que se estava a passar".
Sobre o sistema elétrico português, Matos Fernandes defendeu o progresso alcançado na última década.
“Portugal gerou 71% da sua eletricidade a partir de fontes renováveis em 2024. É excelente. (...) Portugal é mesmo um exemplo de sucesso. A seguir à Dinamarca e Suécia somos o país que gera mais eletricidade a partir de renováveis”.
Reconhece, no entanto, que a evolução da última década traz desafios técnicos. “Hoje, em vez de termos 20 ou 30 polos de geração de eletricidade, temos centenas ou milhares. É óbvio que esta rede é mais complexa de gerir". Defendeu, por isso, mais investimento na digitalização das redes e no uso de inteligência artificial.