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Montenegro jogou golfe com dono da Solverde dias após moção de censura

A empresa da família de Montenegro recebe uma avença de 4500 euros por mês da empresa de casinos e hotéis. No Parlamento, Montenegro não escondeu a amizade com Manuel Violas, mas não disse que a empresa era cliente da Spinumviva.

João Tomás

Ricardo Piano

Estávamos a 21 de fevereiro. O Parlamento debatia a moção de censura ao Governo apresentada pelo Chega, com chumbo garantido. Nesse dia, ainda não era do conhecimento público nem os clientes da empresa da família do primeiro-ministro nem as avenças mensais que recebia.

A empresa da família - chamada Spinumviva -, na altura com suspeitas de ligação ao imobiliário devido à lei dos solos, esteve na origem do debate na casa da democracia.

“É público: eu sou amigo pessoal dos acionistas dessa empresa. Portanto, eu estarei sempre inibido, impondo-me a mim mesmo todas as restrições, de intervir em qualquer decisão que impacte diretamente essa empresa”, declarava, então Luís Montenegro, referindo-se à Solverde, empresa de casinos e hotéis detida pela família Violas.

Mas, no debate parlamentar, um pormenor ficou de fora: Montenegro não disse que a empresa era cliente da Spinumviva e que recebia uma avença mensal de 4500 euros da mesma. A avença em causa representa mesmo 30% da faturação da empresa, que vai agora passar para os filhos do chefe do Governo.

Há onze meses, antes de se tornar primeiro-ministro, Luís Montenegro confessava o gosto pelo golfe. "Um desporto compatível com os quilos a mais. Agora não tenho conseguido. O grande problema é mesmo o tempo”, gracejou, ainda em campanha.

Um gosto que partilha com Manuel Violas, o dono da Solverde, que tem negócios que dependem de decisões do Governo em nome do Estado.

Dois dias após a discussão da moção de censura no Parlamento, Montenegro participou no segundo Torneio de Golfe do Clube dos Economistas.

São várias as fotografias, partilhadas pelo clube, que mostram Montenegro a jogar ao lado do amigo, Manuel Violas, que paga milhares de euros, todos os meses, à empresa da família do primeiro-ministro.

Investigado por amizade e lei do jogo

Há dez anos, quando Luís Montenegro era líder parlamentar do PSD, o processo “Galpgate” abalou a política nacional. Vários titulares de cargos públicos foram acusado por causa de viagens ao campeonato europeu de futebol de 2016 pagas por privados.

Montenegro viajou para Paris a convite do amigo Joaquim Oliveira, empresário ligado ao futebol e dono de 25% da Sport TV.

O inquérito do Ministério Público acabou arquivado em julho de 2021 depois de investigar a ligação de bilhetes, a amizade com Oliveira e a lei do jogo online, que estava a ser discutida no Parlamento - onde estava Montenegro, que sempre desvalorizou a polémica.

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