“Pretoriano”. Palavra que pouco ou nunca tínhamos ouvido falar antes da operação da Polícia de Segurança Pública (PSP) e do Ministério Público (MP) que visa os Super Dragões. Para já, foram detidas 12 pessoas - incluindo Fernando Madureira, o líder da claque - e apreendidos milhares de euros, droga, uma arma e mais de uma centena de bilhetes para eventos desportivos.
Mas o que significa o nome desta operação, que também colocou na mira da justiça funcionários do FC Porto, como o administrador da SAD, Adelino Caldeira, e o “speaker” do Estádio do Dragão, Fernando Saúl? Foi isso que fomos procurar saber.
É preciso voltar atrás no tempo para percebermos. Bem mais do que os 42 anos que Pinto da Costa já leva na presidência do FC Porto, e bem mais do que os 86 de vida do homem que construiu um vitorioso império no coração do Norte e que é candidato pela 16.ª vez ao trono.
De acordo com o dicionário da Porto Editora, “pretoriano” pode ser um nome masculino ou um adjetivo. Enquanto sujeito, é definido enquanto “soldado da guarda pretoriana, entre os antigos romanos”. E como adjetivo, refere-se à “guarda pessoal do imperador romano”, acrescenta o Priberam.
Por isso ou não, os Super Dragões, que desde a sua criação apoiam o presidente Jorge Nuno Pinto da Costa, são comparados a este grupo que no tempo do Império Romano blindava o mais poderoso, o imperador.
O próprio adversário de Pinto da Costa nas eleições de março referiu-se à claque do clube como uma “guarda pretoriana”, a respeito dos episódios na Assembleia-Geral do FC Porto, em novembro, que agora estão a ser investigados.
“Foi absolutamente lamentável e uma derrota interna dos órgãos sociais do FC Porto, que assistiram impávidos às agressões e intimidações de uma guarda pretoriana aos associados do FC Porto”, disse André Villas-Boas, a saída dessa assembleia que acabou por ser cancelada.
Mas a palavra que dá nome à mais recente megaoperação também é adjetivo para o que “envolve intriga, interferência ou corrupção política”, segundo o Priberam.
Quem foi detido?
No resultado desta operação, que visa os tristes episódios da Assembleia-Geral do FC Porto em novembro, foram detidas 12 pessoas - 11 homens e uma mulher -, em que se incluem Fernando Madureira, líder da claque Super Dragões, e a esposa.
Entre os detidos está também Vítor Catão - adepto do FC do Porto e antigo presidente do São Pedro da Cova - e ainda Fernando Saúl, oficial de ligação aos adeptos do FC Porto - 'speaker' do Estádio do Dragão.
O alegado envolvimento de Fernando Madureira
Segundo apurou o Observador, o líder da claque Super Dragões e o administrador da SAD Adelino Caldeira terão acordado criar um clima de intimidação e medo na reunião magna do clube, a 13 de novembro.
Para isso, Fernando Madureira terá distribuído pulseiras de acesso à Assembleia-Geral a elementos da claque que não eram sócios do clube. O objetivo seria colocar, o mais rapidamente possível, pessoas da sua confiança no interior do auditório.
Diz ainda o Observador que o Ministério Público e a PSP têm várias provas que indiciam o conluio entre Adelino Caldeira, o líder dos Super Dragões e também Fernando Saúl. Entre as provas estarão, entre outras, conversas em grupos de WhatsApp e redes sociais.
Recorde-se que a Assembleia-Geral em questão estava agendada para começar a partir das 21:00, num auditório com capacidade para quase 400 pessoas, número largamente inferior à quantidade de sócios que se juntaram nas imediações, motivando a MAG a transferir os trabalhos para o Dragão Arena, que ultrapassa os 2.000 espectadores em dias de jogos.
A reunião magna reiniciou já depois das 22:30, mas várias pessoas abandonaram o local ao fim de pouco tempo, na sequência de altercações nas bancadas.
Segundo o Observador, Fernando Madureira terá começado a insultar apoiantes de André Villas-Boas. Entre as frases proferidas, terão estado as seguintes:
"Batam palmas f***** da p***"
"O FC Porto é nosso, quem não está com Pinto da Costa vai morrer"
"Não estão a bater palmas, estão fo*****"
"És Villas-Boas desaparece daqui senão levas mais"
"Vocês vão morrer"
"Vão todos levar nos cornos seus f***** da p***"
"Ingratos do ca*****"
O que está a ser investigado?
A PSP informou esta quarta-feira que a investigação teve início no ano passado, na sequência dos confrontos na reunião magna. Mas não se fica por aqui.
O caso também estará relacionado com as ameaças a André Villas-Boas, candidato à presidência do FC Porto, e com a onda de assaltos violentos no Grande Porto.
O Observador acrescenta que o Ministério Público e a Polícia Judiciária estão também a investigar a ligação do administrador Adelino Caldeira à venda de bilhetes de jogos do FC Porto.