Tiago Correia, comentador da SIC, considera justa a reivindicação dos médicos de um aumento do salário base sem aumento do volume de trabalho. O especialista diz, neste momento, há as condições "para uma tempestade perfeita" no Serviço Nacional de Saúde (SNS), que é "muito dependente" das horas extraordinárias dos médicos.
"Além dos constrangimentos de trás, como o fecho rotativo das urgências que passaram praticamente a permanentes, a falta de médicos nos cuidados de saúde primários e as filas nos centros de saúde, assistimos agora a uma mobilização dos médicos, que não é comum, sobretudo num movimento inorgânico, num boicote às horas extraordinárias", afirma.
Na Edição da Manhã, diz que considera justa a exigência dos médicos no aumento do salário base sem ter como contrapartida o aumento do volume de trabalho.
O comentador da SIC salienta que o Governo, que não cedeu nessa reivindicação, tem de ir ao encontro dos sindicatos, com um aumento de, pelo menos, de 10%. Sem isso, não vão ter vontade de negociar e os médicos "não vão ter vontade" de retomar as horas extraordinárias, "que garantem o funcionamento do SNS". Tiago Correia destaca que o SNS está "muito dependente" das horas extraordinárias para o seu funcionamento.
"É um castelo de cartas que ao mínimo abano cai e está a cair", refere.
Na análise na SIC Notícias, o comentador diz que esta "altura do ano" vai colocar o SNS em "enorme pressão". Por isso, tem de haver uma "resposta imediata", alerta.
Tiago Correia considera que o Governo tem dado sinais contraditórios. Por um lado, aponta o médico, reconhece as necessidades dos profissionais e agradece-lhe, reconhece os constrangimentos dos utentes e há disponibilidade para revisões, como a lei de bases da saúde, e reformas. No entanto, por outro lado, há uma "grande incapacidade" de ir ao encontro das necessidades dos profissionais para aumentar o salário base.
O comentador da SIC refere ainda que há uma incapacidade de reforçar e reter profissionais do SNS e de distribuir médicos por onde são necessários.
"É necessário uma consistência nas políticas (...). Não basta dizer-se, se depois não há capacidade de ir ao encontro", afirma, acrescentando que é necessário garantir tempos de lazer, de descanso e de formação e que não trabalhem "sob um stress excessivo".
Crise nas urgências com 27 hospitais a receberem pedidos de escusa de médicos
São já 27 os hospitais que receberam pedidos de escusa de médicos. A falta de profissionais de saúde já levou ao fecho de urgências de todo o país e a constrangimentos em vários serviços. A crise na saúde é o ponto de agenda central do encontro desta quarta-feira entre o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, e a Ordem dos Médicos.