São já 27 os hospitais que receberam pedidos de escusa de médicos. A falta de profissionais de saúde já levou ao fecho de urgências de todo o país e a constrangimentos em vários serviços. A crise na saúde é o ponto de agenda central do encontro desta quarta-feira entre o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, e a Ordem dos Médicos.
A urgência geral de cirurgia do Hospital Distrital de Santarém devia funcionar com quatro médicos, mas, esta semana, apenas dois estão no hospital a assegurar o serviço.
"Um médico hospitalar faz 300, 400, alguns colegas 600 horas extraordinárias por ano. Isso é o nosso normal. Agora, fruto de todo o mau trato dos últimos anos, e em particular do último ano e meio, os médicos resolveram que chegava”, afirma o médico cirurgião no hospital de Santarém, Paulo Sintra.
Várias especialidades estão comprometidas a alterar esta realidade, como comprovou o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, em visita ao hospital.
"Há dificuldades nas escalas, por exemplo, da medicina interna; nas escalas da cirurgia, e muito provavelmente em novembro vão existir dificuldades na escala de Pediatria e de Ginecologia e Obstetrícia”, afirma Carlos Cortes.
O Hospital Padre Américo de Penafiel também já recebeu dezenas de minutas, tendo a falta de médicos levado a administração a decidir desviar os doentes urgentes que precisassem de cirurgia.
"Aquilo que nos preocupa é que em breve os hospitais para onde drenamos os doentes a partir dos hospitais que não são centrais deixem de ter capacidade de resposta para os doentes deles e para os doentes que lhes vão chegar", afirma a médica Susana Costa, do movimento Médicos em Luta.
No Centro Hospitalar do Baixo Vouga, em Aveiro, o serviço de urgência de Ginecologia e Obstetrícia esteve fechado segunda-feira à noite.
Ainda que a administração afirme que a urgência geral de cirurgia está garantida durante esta semana, é sabido que não possa contar com todos os médicos da especialidade, pois dos 25 profissionais existentes três deles estão de baixa.
"Não há médicos suficientes no SNS, e não há médicos com condições de trabalho adequadas para poderem fazer a sua profissão. Não há alternativa a que o Governo tome consciência deste problema”, acrescenta o bastonário da Ordem dos Médicos, que quer que o ministro da Saúde o reconheça, e apresente soluções.