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Crise nas Urgências: hospitais de todo o País afetados pela falta de médicos

Um olhar ao impacto da recusa de clínicos em superar as 150 horas extraordinárias previstas na lei revela problemas em unidades de todas as dimensões, de norte a sul do País. Sindicatos temem que a situação se complique já no próximo mês.

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Fernanda de Oliveira Ribeiro

Madalena Ferreira

Susana Bastos

Cláudia Machado

A situação nos hospitais é cada vez mais caótica e afeta já as maiores unidades do País. Cerca de dois mil médicos recusam ultrapassar as 150 horas extraordinárias anuais previstas na lei. Não há pessoal para garantir as Urgências e, de norte a sul, estão a parar serviços críticos como os de medicina interna, pediatria e cuidados intensivos.

Problemas no Santa Maria e no Garcia de Orta com picos de afluência

No Garcia de Orta, em Almada, na terça-feira, registou-se um pico na afluência às Urgências, com utentes a esperar largas horas para serem atendidos.

“Estivemos 1:30 à espera que fizessem a triagem e recebesse a pulseira amarela”, conta à SIC Filipe Fontes, cujo pai foi atendido ao fim de mais de dez horas.

A situação estará agora estabilizada e o hospital, que serve uma população estimada de 350 mil habitantes dos concelhos de Almada e do Seixal, garante que as escalas têm estado completas, não havendo falta de médicos no serviço.

As dificuldades têm sido transversais a outras unidades da Grande Lisboa. Na segunda-feira, por exemplo, a Urgência central do Hospital de Santa Maria atendeu 511 doentes, sendo que cerca de metade não pertencia à área de assistência desta unidade.

Os sindicatos receiam que o aumento das recusas provoque mais dificuldades, à medida que o inverno se aproxima, e apela a que os clínicos anunciem a sua indisponibilidade atempadamente.

"O tempo vai passando, mais médicos atingem este limite, a maior parte já atingiu. Muitos deles com 400, 500, 600 horas extraordinárias.
Seguramente em novembro isto não vai melhorar", alerta Vitória Martins, da Federação Nacional dos Médicos (FNAM).

Casos mais graves a norte vivem-se em Braga, Barcelos, Penafiel e Viana do Castelo

A crise nas Urgências também afeta unidades de média dimensão. Na região norte, os casos mais graves de falta de médicos para assegurar a assistência vivem-se nos hospitais de Braga, Barcelos, Penafiel e Viana do Castelo.

No Hospital de Viana do Castelo, por exemplo, a especialidade de cirurgia pode sofrer constrangimentos a partir de sexta-feira e até domingo. Um cenário que pode repetir-se todos os fins de semana do mês de outubro.

No Hospital de Braga, as Urgências de ginecologia e obstetrícia vão estar fechadas a partir das 08:00 de sexta-feira e até às 08:00 de segunda-feira. Neste período estará apenas garantido o bloco de partos para as utentes e grávidas que estejam internadas no hospital.

Em Barcelos, a recusa dos médicos em fazer mais do que as 150 horas extraordinárias previstas por lei levou o Hospital de Santa Maria Maior a encerrar a Urgência de cirurgia durante todo o mês de outubro. E, já no próximo fim de semana, fecha a especialidade de medicina interna.

Em Penafiel, a segunda maior Urgência do norte do País está desde segunda-feira a transferir para o Hospital de S. João, no Porto, os doentes da Urgência externa por não conseguir ter o número mínimo de médicos especialistas em cirurgia geral.

Maternidade da Guarda afetada e a falta de resposta da VMER

Ainda não foi possível apurar se a Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) do Hospital da Guarda salvaria a vida do turista, de 53 anos, que passeava nos trilhos da Serra da Estrela com a mulher quando entrou em paragem cardiorrespiratória.

A VMER foi acionada sem resposta e acabaram por ser os Bombeiros de Manteigas a transportar o cidadão inglês para o Hospital da Guarda, onde acabou por morrer na segunda-feira. No dia seguinte, já havia equipa, mas falhou a viatura, por avaria, só sendo substituída por outra, enviada do Porto, a tempo do turno das 14:00. A VMER voltou a parar por falta de equipa, das 20:00 às 08:00 desta quarta-feira.

No fim de semana, a escala também está deserta, tal como na Urgência médico-cirúrgica. Já a maternidade, por exemplo, é encerrada no sábado.

Na Guarda, além da falta de médicos, soma-se outro problema. O plano de atividades e orçamento está por assinar na gaveta do ministro das Finanças, o que gera o impedimento de contratar, tarefeiros incluídos.

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