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PSD e Chega admitem criar comissão de inquérito para Tempestade Perfeita

Os partidos mais à direita do Parlamento querem esclarecimento do primeiro-ministro e de João Gomes Cravinho, ministro dos Negócios Estrangeiros sobre a implicação do ministro no caso do contrato de assessoria no valor de cerca de 50 mil euros celebrado com Marco Capitão Ferreira.

Votação da moção de censura ao Governo, apresentada pelo Chega, na Assembleia da República em Lisboa.
ANTÓNIO COTRIM

SIC Notícias

PSD, Chega e Iniciativa Liberal pediram esta sexta-feira esclarecimentos do primeiro-ministro e dos ministros dos Negócios Estrangeiros e Defesa sobre a operação "Tempestade Perfeita", com sociais-democratas e André Ventura a admitirem a hipótese de uma comissão de inquérito.

PSD, Chega e IL falavam aos jornalistas no parlamento, em reação a uma notícia do Expresso, segundo a qual um dos arguidos no processo "Tempestade Perfeita" implicou João Gomes Cravinho no caso do contrato de assessoria no valor de cerca de 50 mil euros celebrado com o ex-secretário de Estado Marco Capitão Ferreira.

Os três partidos manifestaram a sua preocupação pelos "sucessivos episódios" que têm envolvido Gomes Cravinho e consideraram que, apesar de várias vezes questionado em comissão ou plenário, ainda não deu todos os esclarecimentos.

Chega quer audições

O presidente do Chega disse que o seu partido vai propor que os ministros João Gomes Cravinho e Helena Carreiras voltem ao parlamento para prestar esclarecimentos, defendendo que, se o PS não viabilizar estas audições, "o Chega não terá outra opção senão avançar com uma comissão de inquérito ao que acontece no Ministério da Defesa".

"Seria a última das soluções, mas será eventualmente a única que permite esclarecimentos que o país precisa", sustentou.

André Ventura considerou que o ministro "mentiu na comissão, mentiu ao parlamento", falando em "mentiras atrás de mentias no Ministério da Defesa" e acusou António Costa de "proteger Cravinho".

PSD considera Cravinho “diminuído”

O PSD desafiou o primeiro-ministro a fazer a avaliação sobre as condições do ministro dos Negócios Estrangeiros para continuar em funções, sem afastar a possibilidade de uma comissão de inquérito sobre as revelações no âmbito do processo Tempestade Perfeita.

"O PSD considera que o ministro está seriamente diminuído para se manter à frente de uma pasta de soberania que são os Negócios Estrangeiros, desafiamos o primeiro-ministro para que faça essa avaliação, se ainda não a fez", afirmou o coordenador do PSD no grupo parlamentar para a área da Defesa, António Prôa.

O social-democrata acrescenta que o ministro “diz sempre que não viu, não sabe, não conhece”. Para o PSD "um ministro que nunca sabe, nunca viu, está diminuído nas suas funções", acusando Gomes Cravinho de "prejudicar a credibilidade do país e do Governo" e contaminar uma área de soberania, a da Defesa.

Questionado sobre esta proposta do Chega, o deputado do PSD considerou que "todos os instrumentos são úteis", mas o partido avaliará quais os mais ajustados.

"Desejamos e esperamos que o primeiro-ministro possa ainda fazer a sua obrigação, e prestar esclarecimentos, mas o PSD ponderará todos os mecanismos para que estes esclarecimentos sejam prestados", disse António Prôa.

Liberais querem demissão

O líder parlamentar da Iniciativa Liberal insistiu que o ministro dos Negócios Estrangeiros e antigo titular da pasta da Defesa Nacional não tem "condições políticas para estar no elenco governativo", referindo que o partido tem transmitido essa posição desde o início da legislatura.

Rodrigo Saraiva criticou o silêncio do primeiro-ministro e apelou a António Costa que deixe uma palavra de "credibilidade e confiança da estrutura da Defesa".

Sobre uma eventual comissão de inquérito, o deputado liberal considerou que este caso está a seguir na justiça e "não se justifica ainda", reusando "banaliza esta ferramenta".

"Entendemos que os governantes devem vir rapidamente dar respostas, esclarecer com transparência o que está a acontecer. Não podemos ter um ministro diminuído com estes casos", defendeu, por seu lado, o líder parlamentar da IL.

PCP quer fiscalização ao Governo

Momentos depois, o PCP considerou que as notícias que têm vindo a público sobre o Ministério da Defesa "são preocupantes" e insistiu na "necessidade de a investigação policial prosseguir e poder fazer o seu caminho" e que "daí possam resultar todas as ilações e consequências".

Questionado se o Governo deve prestar esclarecimentos, o deputado comunista João Dias defendeu também que "o parlamento poderá e deve desenvolver essa que é a sua competência de fiscalização à atuação do Governo" e indicou que o partido está disponível para, "em sede da comissão de defesa, continuar a fazer esse questionamento e fiscalização da atuação dos membros do Governo".

Cravinho implicado

O Expresso noticia hoje que um dos arguidos no caso "Tempestade Perfeita", Paulo Branco, à época responsável financeiro na Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional, implicou João Gomes Cravinho no caso do contrato de assessoria no valor de cerca de 50 mil euros celebrado com Marco Capitão Ferreira.

Segundo o semanário, Paulo Branco declarou que o então ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, "tinha concordado" ou até "pedido" para se fazer um contrato de assessoria com Capitão Ferreira para o compensar e "pôr as contas em dia" pelos trabalhos realizados numa "comissão fantasma" que funcionava na órbita do seu gabinete.

Numa nota do Ministério dos Negócios Estrangeiros, o anterior titular da pasta da Defesa afasta mais uma vez a ideia de ter estado envolvido no contrato celebrado entre a Direção-Geral de Recursos de Defesa Nacional e Marco Capitão Ferreira.

Com Lusa

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