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Empreendimento turístico e imobiliário previsto para as traseiras do Stop no Porto

O administrador de condomínio do Stop, no Porto, disse que o dono da empresa hoteleira IME, gestora do Eurostars Heroísmo e dona do terreno nas traseiras daquele centro comercial, manifestou interesse no espaço, mas sem apresentar propostas.

Segundo a Associação de Músicos do centro comercial, mais de 500 músicos ficam “sem ter para onde ir”.
JOSÉ COELHO

SIC Notícias

Lusa

O Centro Comercial Stop, cujas lojas estavam arrendadas na maioria por músicos e que fechou na terça-feira, poderá ter como vizinho, nas traseiras, um empreendimento turístico e imobiliário no Quarteirão da Oficina do Ferro, segundo projetos já tornados públicos.

Em julho do ano passado, a IME - Imóveis e Empreendimentos Hoteleiros promoveu um Concurso de Conceção em parceria com a Ordem dos Arquitetos - Secção Regional do Norte, que permitisse "fazer uma reflexão sobre o melhor enquadramento conceptual para um eventual futuro investimento naquela área".

"Em termos programáticos, pretende-se a conceção de um hotel, de apartamentos turísticos e de habitação acessível, nos termos do estabelecido no Programa Preliminar do concurso", pode ler-se no mesmo, disponível no 'site' dedicado ao concurso.

De acordo com os anexos do concurso consultados pela Lusa, a área de intervenção não inclui o Centro Comercial Stop, mas uma das entradas para o empreendimento será feita no edifício contíguo, onde já existe um portão que dá acesso ao quarteirão em causa.

Além dos terrenos nas traseiras do Stop, naquela zona a IME é também proprietária do hotel Eurostars Heroísmo, precisamente na mesma rua do centro comercial, segundo o seu 'site'.

"A área de intervenção tem atualmente um acesso pela Rua do Heroísmo e terá futuramente outro pela Rua do Barão de Nova Sintra, fixando, assim, dois pontos de conexão com a estrutura viária diretamente envolvente e existente, e que servirão a intervenção", pode ler-se nos documentos do concurso.

Administrador do condomínio

O administrador de condomínio do centro comercial Stop disse esta quinta-feira à Lusa que o dono da empresa hoteleira IME, gestora do Eurostars Heroísmo e dona do terreno nas traseiras, manifestou interesse no espaço, mas sem apresentar propostas.

"Com esse hotel falei, eles mostraram interesse. Falei mais que uma vez. Tenho uma ótima relação com eles, dei-lhes a ideia do que era, até foram lá com um arquiteto, e eu mostrei as frações todas", disse à Lusa Ferreira da Silva.

De acordo com o administrador do condomínio do Stop, "eles sempre disseram que tinham interesse, mas nunca concretizaram uma proposta de um euro ou um milhão".

Questionado sobre se tinha contactado com Adérito Oliveira, presidente da IME - Imóveis e Empreendimentos Hoteleiros, Ferreira da Silva confirmou, dizendo que "o engenheiro foi uma pessoa extremamente correta".

"Mostrou sempre interesse, é o dono do terreno de trás, mostrou interesse naquilo, no Stop, mas não houve concretização de nada", assegurou, dizendo ter "uma relação ótima com ele", mas nunca "qualquer contacto no sentido de 'vamos comprar, qual é o preço, em que condições, podemos contactar os proprietários'".

Segundo Ferreira da Silva, tratou-se de contactos "preambulares" e, sobre o Stop, "dizer-se que há interesses imobiliários é mentira", atualmente.

"Quer dizer, pode ser que haja a partir de agora, mas antes nunca houve", disse à Lusa.

A Lusa questionou a IME - Imóveis e Empreendimentos Hoteleiros sobre contactos com o administrador do Stop e sobre o empreendimento nas traseiras do centro comercial denominado Quarteirão da Oficina do Ferro, e aguarda resposta.

Concessão de um hotel

Além do Eurostars Heroísmo, naquela zona a IME já promoveu um Concurso de Conceção em parceria com a Ordem dos Arquitetos - Secção Regional do Norte para o quarteirão nas traseiras, que permitisse "fazer uma reflexão sobre o melhor enquadramento conceptual para um eventual futuro investimento naquela área".

"Em termos programáticos, pretende-se a conceção de um hotel, de apartamentos turísticos e de habitação acessível", pode ler-se no programa do concurso, disponível no 'site' dedicado ao concurso.

De acordo com os anexos consultados pela Lusa, a área de intervenção não inclui o Centro Comercial Stop, mas uma das entradas para o empreendimento será feita no edifício contíguo, onde já existe um portão que dá acesso ao quarteirão em causa.

À Lusa, Ferreira da Silva contestou ainda que o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, se tenha referido a si como "aquele que se intitula como administrador de condomínio".

"O administrador está eleito por ata que eu posso mostrar, a da assembleia que o elegeu", disse Ferreira da Silva à Lusa.

O administrador disse ainda que é "mentira" que a Câmara tenha tentado comprar ou alugar o Stop.

No quarteirão situava-se a chamada Quinta dos Oliveiras, e em 1917 a "a Empreza Ferro Esmalte, Limitada, decide edificar uma fábrica e todas as estruturas de apoio" no local.

Em 1920 e 1922 a Companhia Metalúrgica do Norte procede a "alterações da entrada pela Rua do Heroísmo", e em 1934, as instalações são adaptadas pela Manuel Alves de Freitas & Companhia a Palácio Ford, como ainda hoje é conhecido, "com motores de automóveis, camiões e aviões, para além de tratores", de onde saíram três Ford V8 de competição conduzidos pelo cineasta Manoel de Oliveira, por Giles Holroyd e por Eduardo Ferreirinha.

Para o novo projeto, um pedido de esclarecimento de um concorrente assinalava a "prevalência unicamente de pequena tipologia (T0 e T1)" para alojamentos turísticos e habitação acessível, questionando que se "a enorme carência de habitação na cidade é sentida sobretudo pelas famílias de classe média que procuram casas com áreas maiores do que as de um T1", não seria possível "equacionar outras tipologias para alargar o leque de oferta a agregados familiares com mais de duas pessoas".

Na resposta, o júri referiu que "foram escolhidas as tipologias T0 e T1 com o fim único de avaliar a capacidade dos concorrentes em propor um modelo de habitação na área de intervenção", mas o promotor poderia "futuramente optar por tipologias diversas".

O concurso, que teve três concorrentes, foi ganho pelos arquitetos Rafael Montes e Miguel Acosta com uma percentagem de 41%, mas o júri "lamentou que as propostas de intervenção apresentadas não correspondam ao desafio lançado no campo disciplinar da arquitetura, também pela oportunidade que representa para a cidade, sua transformação e evolução futura".

"Manifestou-se, assim, pela fragilidade das três propostas apresentadas, as quais revelam um fraco entendimento do lugar, não estabelecendo relações com o tecido urbano envolvente", refere o relatório, que não obriga à adoção da proposta vencedora para o terreno.

Na quarta-feira, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, garantiu que não vai autorizar a construção de "nenhum hotel" no local do centro comercial Stop e que a compra do edifício pela autarquia não é viável, algo que reiterou esta quinta-feira.

Na terça-feira, o administrador de condomínio do Stop, Ferreira da Silva, disse que o centro comercial não pode ser vendido como um todo, devido à propriedade do mesmo ser partilhada pelos donos das lojas

Mais de uma centena de lojas do Centro Comercial Stop, na Rua do Heroísmo, no Porto, foram seladas pela Polícia Municipal "por falta de licenças de utilização para funcionamento", justificou a Câmara Municipal, deixando quase 500 artistas e lojistas sem ter "para onde ir", segundo a Associação de Músicos do Stop.

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