Cultura

Centenas de lojas fechadas no STOP: administrador diz ter sido apanhado de surpresa

A Câmara do Porto mandou a Polícia Municipal fechar 105 das 126 lojas do centro comercial STOP, por “falta de licenças”. Mais de 500 músicos que ficaram desalojados protestaram em frente ao edifício.

Segundo a Associação de Músicos do centro comercial, mais de 500 músicos ficam “sem ter para onde ir”.
JOSÉ COELHO

SIC Notícias

Lusa

O administrador do centro comercial STOP, que esta terça-feira viu serem fechadas a maioria das suas lojas por ordem municipal, admitiu aos jornalistas ter sido apanhado de surpresa com o encerramento, dizendo não ter sido notificado da ação da Polícia Municipal.

"Acabou agora recentemente o prazo para executar as obras. Não foram feitas e a fiscalização da Câmara, sem me notificar - também não tem que me notificar, numa penhora ou execução não se notifica a pessoa de que vai ser feita - veio hoje fechar, e eu completamente [apanhado] de surpresa", disse o administrador Ferreira da Silva aos jornalistas, no interior do centro comercial STOP.

Mais de uma centena de lojas do centro comercial STOP, na Rua do Heroísmo, no Porto, foram seladas pela Polícia Municipal "por falta de licenças de utilização para funcionamento", justificou a Câmara Municipal.

Em comunicado, a autarquia presidida pelo independente Rui Moreira avança que estão a ser seladas 105 das 126 lojas deste centro comercial, numa operação que começou de manhã e obrigou à saída de lojistas, tendo alguns músicos permanecido no exterior do centro comercial.

O centro comercial Stop funciona há mais de 20 anos como espaço cultural e diversas frações dos seus pisos são usadas como salas de ensaio ou estúdios por vários artistas.

“Não há dinheiro”, admite o administrador

Segundo o administrador, a associação de músicos do centro comercial "indicou uma arquiteta para fazer alterações ao projeto para se obter licenciamento" para o espaço, que, tal como um regime de propriedade horizontal, não tem um proprietário único, sendo as parcelas divididas pelos proprietários das lojas.

"Esse projeto foi aprovado, mas o problema é que não há dinheiro para o executar. A questão é essa. Eu sempre disse, claramente, na Câmara, que não havia dinheiro para o fazer. O projeto implica seis milhões de euros e o condomínio não tinha dinheiro", detalhou Ferreira da Silva.

Segundo o administrador, a Câmara do Porto "deu a entender" que não se “preocupasse muito com isso, mas sim com a legalização”, sugerindo que se a autarquia "tivesse qualquer medida de fazer as obras", e apoiar os condóminos, "provavelmente estariam absolutamente disponíveis para fazer um período de utilização" alargado, por exemplo, de 20 anos.

"A ideia não é tirar rentabilidade. As lojas aqui, a maior parte delas, estão alugadas a 125 euros por mês. Nenhum condómino está a ganhar dinheiro com isto", disse o administrador Ferreira da Silva.

O que falhou até aqui?

Recordando que o edifício data de 1982, Ferreira da Silva detalhou que "naquela altura, os prédios eram vendidos na planta" e, "depois, no fim de estar o edifício construído, pedia-se a licença de utilização". "Foi isso que falhou", considerou.

"As pessoas receberam as lojas em planta, algumas frações fizeram obras para fazer pés direitos diferentes, e portanto a Câmara não aprovou a licença por causa dessas obras. A empresa que fez o prédio depois faliu, o construtor faliu e o arquiteto morreu. Quem fez o prédio deixou isto com as lojas todas vendidas, mas sem licença", detalhou o administrador.

Questionado sobre se o edifício pode ser vendido como um todo, o administrador negou, devido à propriedade ser partilhada “Basta um não querer, que não pode”.

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