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Discurso de Mariana Mortágua, a nova coordenadora do BE: dos avisos aos objetivos

No seu primeiro discurso como coordenador do BE, Mariana Mortágua garantiu que o partido vai “lutar” para “responder aos problemas da vida dos portugueses, entre os quais o acesso à saúde e educação e melhores salários”.

ANTONIO COTRIM

SIC Notícias

Lusa

Mariana Mortágua foi consagrada a nova coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) e a lista de continuidade que apresenta à Mesa Nacional conseguiu 67 dos 80 lugares, reforçando, assim, a direção neste órgão. Num primeiro discurso como líder do partido, Mariana Mortágua deixa um aviso aos adversários internos, críticas à maioria absoluta e os seus objetivos. Reforça que vai “lutar” para "responder aos problemas da vida dos portugueses, entre os quais o acesso à saúde e educação e melhores salários”.

Quem abafar "pântano da maioria absoluta" não defende a democracia

Mariana Mortágua, assumiu o combate à maioria absoluta do PS que classificou como "um tormento" e "causa de embaraço nacional" e avisou que quem "abafar este pântano" não defende a democracia.

"E já todos sabemos - os eleitores do PS melhor do que ninguém - como em pouco mais de um ano se tornou evidente que a maioria absoluta é um tormento de degradação e instabilidade e uma causa de embaraço nacional", declarou Mariana Mortágua, perante os delegados à XIII Convenção.

Entre constantes aplausos, no seu primeiro discurso como coordenadora do BE, Mariana Mortágua estabeleceu as balizas da intervenção do partido nos próximos dois anos para "impedir que continue este caminho de degradação".

"Quem abafar, menorizar ou desvalorizar o pântano criado pela maioria absoluta não está a defender a democracia, mas sim a desresponsabilizar os causadores da fragilização da democracia", disse.

Mariana Mortágua criticou o Governo de António Costa que, considerou, incorre "no vício" de "festejar trunfos que são um tormento".

"Não há pior vício neste governo do que festejar triunfos que são um tormento para as pessoas. Os salários e as pensões ficam mais pequenos mas o Governo pede-vos que agradeçam o excedente orçamental", criticou.

Para "resgatar o país deste jogo vicioso", a nova líder bloquista só vê um caminho: "é preciso uma esquerda frontal".

"Quero dizê-lo com muita clareza. A esquerda que desistir de ser exigente para aceitar a chantagem do medo não serve o país. Não somos biombos de sala, não somos cravos de lapela", avisou.

Na análise de Mariana Mortágua, a esquerda precisa de "força suficiente" para uma política de habitação que "garanta casas", para "multiplicar as capacidades dos serviços públicos com carreiras mobilizadoras", mas também para "acabar com os truques nos impostos" e "garantir contratos de trabalho, salários e pensões decentes", dedicando ainda "os recursos necessários à transição energética".

"Sabemos que a nossa força vem das escolhas que fazemos. Em tempos tóxicos, para impedir uma rampa deslizante para a direita e para a extrema-direita, o Bloco escolhe levar o país a sério", prometeu.

A bloquista voltou neste discurso de consagração aos avisos sobre os perigos sobre a "política do medo" porque, avisou, "mais tarde ou mais cedo, onde reina o medo, o pior acontece mesmo".

"As sementes do ódio estão aí, há na direita uma ânsia de vingança contra os trabalhadores, de desprezo pelos pobres, de regressão nos direitos conquistados. A direita, que bebe do ressentimento e da angústia de problemas reais, é a primeira a querer impor medidas contra o povo, a apoiar a especulação imobiliária, os interesses da banca e a venda ao desbarato dos recursos do nosso país que são nossos. Nós combateremos essa direita, impediremos que tenha maioria para impor o seu programa ao país, a Portugal", enfatizou.

Nesta altura da intervenção, Mariana Mortágua falou "bem alto" para a direita: "Portugal não será o país onde espancam imigrantes nas fronteiras e em que se multiplicam Odemiras. Portugal não será um país sem serviços públicos de saúde e educação, como propôs o Chega".

O aviso aos adversários

A líder do BE avisou "os adversários" do partido que "ainda não viram nada" e apontou que o Bloco "é e sempre será o lugar das causas e das convicções".

"Aos nossos adversários, para quem a esquerda é sempre um projeto condenado, já nos conhecem mas ainda não viram nada da força que vamos saber criar, reinventar, construir, unir", afirmou a nova líder, eleita hoje na XIII Convenção Nacional do BE, em Lisboa.

No seu discurso de consagração, logo após o anúncio dos resultados, Mariana Mortágua garantiu também que as mais de duas décadas de história do partido, as 13 convenções até agora, "esta sala cheia, são só o começo do BE".

A líder eleita, que sucede a Catarina Martins, considerou que atualmente se assiste "à degradação da vida pública" e que "é precisamente quando a vida pública se degrada que é mais preciso mostrar que no BE a política é e sempre será o lugar das causas e das convicções".

"Não deixamos a política entregue ao calculismo nem a esse pântano em que verdade e mentira se confundem. A nossa política é uma paixão maior do que qualquer circunstância, é uma forma de impaciência, é uma vontade que ninguém pode domar", salientou.

Mortágua quer voltar a eleger na Madeira e ser terceira força nas europeias

A nova coordenadora estabeleceu como objetivos voltar a ter representação parlamentar na Madeira este ano e ser a terceira força política nas eleições europeias de 2024.

Estas metas foram estabelecidas por Mariana Mortágua no seu discurso de consagração como nova líder do BE, no encerramento da XIII Convenção Nacional do BE na qual a sua lista à Mesa Nacional teve uma vitória esmagadora.

"Será esta força que irá a votos ao longo dos próximos meses e temos dois objetivos. O primeiro é erguer na Madeira a oposição que Miguel Albuquerque teme, a que não se cala perante esses interesses que abraçam o PSD e o PS Madeira.

Haverá uma oposição que leva a sério vida dos madeirenses, a pobreza, a habitação, a saúde. Essa oposição será a força do Roberto Almada, no Parlamento da Madeira a partir de outubro", disse, perante uma ovação, de pé, da sala.

Mas não foi apenas sobre as eleições regionais da Madeira deste ano que Mariana Mortágua se focou, antecipando já um objetivo para 2024.

"Chegaremos às eleições europeias com o entusiasmo e a determinação de sermos a terceira força para ultrapassar o Chega e a Iniciativa Liberal", disse.

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