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As respostas e explicações do almirante Gouveia e Melo

Em entrevista ao Jornal da Noite da SIC, Gouveia e Melo recusa ter dado um raspenete público aos marinheiros do NRP Mondego, garante que o navio estava em condições de ir para o mar e sem comentar declarações do comandante supremo, Marcelo Rebelo de Sousa, salienta que pensa pela própria cabeça.

Carolina Botelho Pinto

O almirante Gouveia e Melo esclareceu esta sexta-feira, em entrevista no Jornal da Noite da SIC, que não deu “nenhum raspanete em público” aos marinheiros que se recusaram a embarcar no navio NRP Mondego, depois de ter sido criticado pela forma como atuou, e garantiu que o navio estava em condições de ir para o mar.

“Disciplina não é querer ser autoritário, é uma necessidade”

Gouveia e Melo afirmou que um ato de indisciplina, tendo-se tornado público, “tem que ter uma resposta pública”. No entanto, recusa ter dado um raspanete aos marinheiros.

“Falei para a Marinha toda porque um ato de indisciplina é um ato muito grande que, tendo-se tornado público, tem que ter uma resposta pública minha. Mesmo que falasse de forma reservada, qualquer palavra que tivesse pronunciado, mais tarde ou mais cedo, seria pública”, disse.

Assume não ter sentido a necessidade de falar com os marinheiros antes de se pronunciar e volta a insistir na importância da disciplina nas Forças Armadas. Sublinha que “a disciplina é a cola básica de quaisquer Forças Armadas no mundo” e rejeita uma posição autoritária.

“A disciplina não é querer ser autoritário, é uma necessidade porque as Forças Armadas atuam em ambientes muito complexos e com risco de vida”.

Gouveia e Melo lamentou que os marinheiros não tenham comunicado as preocupações que tinham ao gabinete do Chefe do Estado-Maior da Armada antes de tomarem uma posição e diz que uma vez cometido “o ato vive por si em termos jurídicos e de disciplina”.

Informou ainda que acredita que o ato de indisciplina partiu dos próprios: “A ser verdade é grave, mas é preciso ter a certeza absoluta disso e é isso que os processos em curso vão fazer. Não quero julgar ninguém”, disse.

NRP Mondego tinha condições de ir para o mar, revela almirante

O almirante Gouveia e Melo revelou que ordenou uma verificação ao NRP Mondego e que os técnicos que foram à Madeira fazê-la garantiram que o navio podia ir para o mar.

“A resposta que tive é que sim, ia para o mar com limitações mas sem pôr a guarnição em risco”.

O Chefe do Estado-Maior da Armada reconheceu que os militares vão “naturalmente agarrar-se a tudo o que puderem para se justificarem”, mas lembrou que quem vai avaliar a situação são os tribunais.

Explicou ainda que os navios militares são “muito complexos” e que têm muitos sistemas a bordo. “Não são navios normais e é raro um navio ter todos os sistemas operacionais”. Garantiu, no entanto, que nunca teve dúvidas da linha de comando.

Presidente Marcelo? “É o meu comandante supremo, no entanto penso pela minha cabeça”

Questionado sobre as declarações do Presidente da República, o almirante fez questão de recordar que Marcelo Rebelo de Sousa é o seu comandante supremo. Salientou, no entanto, que pensa “pela própria cabeça”.

“É o meu comandante supremo, no entanto penso pela minha cabeça. Fiz um conjunto de ações com a liberdade do meu estatuto de comandante. O Senhor Presidente da República é soberano, não faço comentários, como é evidente”, rematou.

“A minha obrigação e a dos meus militares é fazer o melhor e o máximo”

Lamentando a escassez de recursos, problema que lembrou não ser exclusivo da Marinha nem das Forças Armadas, sublinhou, ainda assim, que a obrigação de todos é “fazer o melhor e o máximo” com o que está disponível.

“Quando olhamos para o copo meio cheio, podemos olhar para a parte vazia, para a parte cheia ou de forma equilibrada para o copo como um todo”

Revelou também que a Marinha tem 33 navios, dos quais 15 com uma prontidão de 48 horas e mais três em prontidão de cinco dias. Gouveia e Melo assumiu que uma Marinha com uma prontidão “entre 40 a 50% é uma Marinha com alguma capacidade”.

Credibilidade da Marinha está em causa?

O almirante Gouveia e Melo assumiu que a credibilidade da Marinha e das Forças Armadas é “muito importante”, mas defendeu que “não é um ato isolado que mancha tudo o que fazemos”.

Disse ainda que a maioria dos indivíduos da Marinha “são extraordinários”, incluindo os militares envolvidos nesta polémica.

“A grande maioria são indivíduos extraordinários, mesmo estes militares: tiveram louvores, carreiras e respeito-os enquanto camaradas”, concluiu.

Atuação de Gouveia e Melo tem gerado contestação

Na quinta-feira, o advogado dos militares da NRP Mondego, Paulo Graça, mostrou-se indignado com as palavras do almirante Gouveia e Melo aos militares que se recusaram a embarcar para uma missão de acompanhamento de um navio russo ao largo da Madeira, alegando "falta de segurança". Paulo Graça considerou "grave" os 13 militares terem sido “condenados em praça pública”.

Já esta sexta-feira, em entrevista à SIC Notícias, Hugo Costeira, presidente do Observatório de Segurança Interna, defendeu que a repreensão devia ter acontecido em privado.

Marinha avança com 13 processos disciplinares

A Marinha vai avançar com um processo interno de âmbito disciplinar aos 13 militares que recusaram embarcar no NRP Mondego, alegando razões de segurança. Entre as várias limitações técnicas invocadas pelos militares constava o facto de um motor e um gerador de energia elétrica estarem inoperacionais.

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