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Gouveia e Melo: "Imagino-me a fazer o que puder para o meu povo"

Numa entrevista exclusiva, a propósito dos três anos de pandemia, Gouveia e Melo elogia o trabalho dos profissionais de saúde e revela um medo. Agora como comandante da Armada, indica como foi entrar na esfera política, quais foram as suas relações com o primeiro-ministro e a ministra da Saúde, e como encarou as críticas. Gouveia e Melo tem sido apontado como possível candidato a Presidente da República. Saiba o que o atual comandante da Armada tem a dizer sobre isto e quais os seus planos futuros.

SIC Notícias

Ana Peneda Moreira

Há precisamente três anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia. Após muitas incertezas, novos hábitos, os confinamentos e restrições, eis que surge a vacina contra a covid-19. O processo de vacinação fez de Portugal um exemplo internacional e colocou Gouveia e Melo em destaque.

Numa entrevista exclusiva, Henrique Gouveia e Melo, o comandante da task force admite que teve medo. Conta que a urgência nas tomadas de decisões colidiu com outros poderes. Confessa que ponderou deixar a Marinha quando o Presidente da República desautorizou o ministro da Defesa depois de ter sido anunciado que Gouveia e Melo seria o novo chefe da Marinha. Atualmente, já como comandante da Armada foi alvo de ameaças, depois de ter proibido marinheiros de trabalharem nas horas extra como seguranças privados.

Os elogios aos trabalhadores do setor da Saúde

O antigo comandante da vacinação em Portugal não escondeu a sua admiração para com os funcionários do setor da saúde, que tiveram um papel vital durante a pandemia.

"Não me canso de elogiar os enfermeiros, os médicos, todos os auxiliares que deram tudo o que tinham naquele período", admite o comandante de Estado Maior da Armada.

"Como em todas as grandes tarefas, o medo era falhar"

Questionado sobre o seu receio que teve como coordenador da task force do plano de vacinação, Gouveia e Melo, indica "falhar a tarefa e não ser capaz de concluir com sucesso".

"Eu pensava muitas vezes que se não fizesse mais, poderia criar condições para que alguma coisa falhasse. Mas não sendo otimista, sou um individuo que acredito que o esforço permanente, constante com inteligência e com abertura de espírito para encontrar caminhos onde nós encontramos paredes é o que é necessário para resolver problemas desta complexidade".

Espaço na política

Da Marinha para o espaço político, o atual comandante de Estado Maior da Armada reforça que "teve de se inserir".

"O poder político atribuiu-me uma tarefa e, ao atribuir essa tarefa, deu um grau de liberdade correspondente ao poder que me atribuiu para resolver o problema", remata Gouveia e Melo.

O primeiro-ministro demonstrou total apoio durante o processo, adianta o comandante. Contudo, sobre a ministra da Saúde, deixa claro que também o apoiou sempre que precisou, mas admite que "ela tinha outras preocupações, mais do foro político".

Encarou a missão máxima como uma "porta aberta ou como um presente envenenado"?

O vice-almirante foi comandante da task Force e agora assume a posição de comandante do Estado Maior da Armada, que sempre indicou como objetivo. A sua missão durante a pandemia correu bem, mas e se o cenário fosse outro?

“Se não tivesse conseguido cumprir com a missão, naturalmente não estaria aqui. Não sei se isso é um presente envenenado ou um aporta aberta. No entanto, também é uma porta aberta, porque, de facto, foi uma missão que me permitiu mostrar as minhas capacidades ou não. E foi uma missão de tal forma relevante. que Julgo que também ajudou a certas decisões que acabaram comigo nesta posição”, esclarece Gouveia e Melo.

Ponderou deixar de ser militar?

Terminada a missão como comandante da task force do plano de vacinação, Gouveia e Melo, viu-se envolvido numa polémica política que o levou a ponderar deixar de ser militar.

"Achei que o poder político tinha o seu espaço de decisão que iria decidir na altura o que tinha que decidir e eu acataria essa decisão".

"Sondagens não me sobem à cabeça"

Numa sondagem recente feita pelo jornal Expresso, Gouveia e Melo aparece como a pessoa que teria mais intenções de voto quando comparado com o primeiro-ministro, Passos Coelho, Marques Mendes e Augusto Santos Silva. Ainda assim, o comandante avança que "não se preocupa" com sondagens e que as mesmas "não lhe sobem à cabeça".

Cargo de Presidente da República na mira de Gouveia e Melo?

A "pergunta é legítima", na ótica de Gouveia e Melo e deixa a pergunta em aberto, visto que entende que "é deslocada para um militar que está no ativo".

"Por isso, o que posso dizer é que, e repito, estou 100% focado na minha atividade militar, com muito gosto, que é tentar contribuir para que a Marinha faça o seu papel na sociedade portuguesa".

Quanto aos projetos para o futuro, apenas indicou que pretende "contribuir no que puder para o meu povo, para a minha população. Claro que a Marinha para mim nunca acabará e farei tudo o que puder para continuar a ajudar esta Marinha e este país. Olhar para o mar e aproveitar esse último ativo estratégico que é o grande oceano que está à nossa frente".

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