O Porto está agora mais policiado por causa do consumo e tráfico de droga na parte ocidental da cidade. A sala de consumo assistido tem seis meses e a procura aumenta. É um problema grave que se arrasta sem fim à vista.
“Eu adoro droga. Fiquei apaixonado pela coca. Quando experimentei a primeira vez fiquei maluco”.
Carlos, nome fictício, começou nas drogas aos 21 anos na Sé. Passou depois a frequentar o Aleixo, até as duas torres virem abaixo. Durante anos, o bairro foi considerado um supermercado das drogas na cidade do Porto
“Ali era o centro da droga”, conta Carlos.
Mas o centro da droga “desapareceu”, conta Sandra à SIC, e os consumidores “tiveram que ir para outro lado. Foram para o bairro mais próximo. Consomem em qualquer lado, não respeitam ninguém”.
O sentimento de Sandra, de 42 anos, é também o dos moradores da zona ocidental da cidade.
“Não saio de casa a pé. Quando vim morar para aqui há 10 anos ia a pé até à beira rio. Agora não posso fazer isso, não posso ir ao supermercado a pé porque não me sinto segura”, conta à SIC Olga Teixeira.
“Assaltam as pessoas, maltratam os idosos. Acontece com muita frequência”, revela outro morador, que não quis ser identificado.
Para evitar situações de consumo na via pública e para construir caminhos sociais e de aproximação aos Sistema Nacional de Saúde, começou a funcionar em agosto a primeira sala de consumo assistido na cidade do Porto.
“Já lá fui, vou lá quase todos os dias”, revela Sandra. O problema? “É pequenino, está sempre cheia”.
Depois de feitas as contas do primeiro trimestre, chegou-se à conclusão que foram realizados mais de oito mil consumos de drogas de forma vigiada naquela sala. A equipa está agora a completar o meio ano de funcionamento e a SIC tem indicações de que o próximo relatório deverá apontar para o dobro dos consumos.
Mas este é um projeto ainda em fase experimental. Rui Moreira, presidente da autarquia, disse já que estaria disponível para ajudar a montar mais duas salas na cidade.
A polícia tem marcado presença diária nos bairros da pasteleira, Pinheiro Torres e Condominhas e contam-se, nesta zona em 2023, várias operações policiais. Desde o início deste ano já houve 44 pessoas detidas por tráfico de estupefacientes no grande Porto.
“A polícia está ciente que é um problema complexo e tem dirigido e privilegiado meios para aquele local, muitas vezes em detrimento de outras áreas da segurança pública”, garante Rui Mendes, da PSP.
Também os números da polícia municipal apontam para a recolha de 38,9 toneladas de resíduos relacionados com o consumo de droga desde o início deste ano.