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No Dia Mundial da Justiça Social, tom é de preocupação com o futuro

Portugal é o 8.º país da UE com maior risco de pobreza e exclusão social, com mais de 20% da população em situação de vulnerabilidade social e económica. No Dia Mundial da Justiça Social, que se assinala esta segunda-feira, os alertas são para os perigos da inflação e para uma classe média que vai enfrentar (mais) dificuldades.

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SIC Notícias

O retrato de Portugal mostra um país desigual onde não há justiça social e mais de 20% da população está em risco de pobreza e exclusão social. Entre os mais vulneráveis estão as famílias com filhos, os idosos que moram sozinhos e os desempregados, mas ter um trabalho seguro não é suficiente para sair de uma situação de pobreza.

Além disso, também a geração mais qualificada de sempre está refém dos baixos salários.

“Continuamos a não ter uma valorização adequada dos diplomas e das qualificações no mercado de trabalho. Este é um problema grave em Portugal, continuamos a ter muitas pessoas licenciadas que continua a trabalhar ou com salário mínimo ou com estágios remunerados e às vezes não remunerados”, sublinha a presidente da Associação Europeia de Sociologia, Lígia Ferro.

À SIC, Adelino Soares, do Movimento para Erradicar a Pobreza, acrescenta que “há todo um conjunto de situações que dá origem ao aparecimento de novos pobres que mesmo estando a trabalhar continuam a não ter condições capazes de sustentar a vida, [uma situação] agravada com problemas gravíssimos por causa do aumento das rendas”.

A posição de Portugal na UE - 8.º lugar - agravou-se com a pandemia e a guerra, criando uma tragédia a olho nu com pessoas que fazem do chão teto mas também famílias incapazes de morar no centro das cidades.

“A habitação continua a impor-se como principal problema com o qual temos que lidar, com os processos de turistificação, de gentrificação (deslocação dos residentes com menor poder económico), que têm levado a uma especulação imobiliária dos preços das casas, isso tem no fundo atirado as pessoas para lugares mais distantes da cidade”, reconhece Lígia Ferro.

Como se inverte este ciclo? Para a presidente da Associação Europeia de Sociologia o caminho pode passar por mecanismos de redistribuição da riqueza que permitam chegar a quem mais precisa em tempo útil.

“Temos o Rendimento de Inserção Social (RSI) que, apesar de todas as polémicas e discussões que tem gerado, se tem provado eficaz e temos de continuar e se calhar alargar este tipo de apoios a uma camada maior da população”, sugere.

O tom neste Dia Mundial da Justiça Social é de preocupação com o futuro porque "não estamos num momento em que podemos ser extremamente otimistas quanto ao futuro. Temos uma classe média que tem dificuldade em fazer face a despesas inesperadas, e que vai também enfrentar momentos complicados”, refere Lígia Ferro.

Adelino Soares acrescenta “o aumento do preço, principalmente dos bens essenciais, o que se perspetiva é haver um agravamento da situação”.

Mais de um milhão e meio de portugueses vivem abaixo do limiar da pobreza, com menos de 540 euros por mês. Os números não contam histórias mas mostram que a inflação não afeta todos por igual.

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