Tudo indica que seja o primeiro caso de acasalamento de linces-ibéricos de duas populações distintas, a de Doñana, em Espanha, e a do Vale do Guadiana, após o arranque do programa de reintrodução em Portugal. Os biólogos do Parque Natural do Vale do Guadiana (PNVG)/ Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) vão agora recolher material biológico das crias para se fazerem análises genéticas que permitam confirmar em definitivo a paternidade. Mas pelo comportamento do macho e da própria fêmea, ao tolerá-lo perto das crias, é quase certo que "Mundo" seja o progenitor das crias de "Malva".
A equipa que monitoriza os linces-ibéricos libertados no concelho de Mértola tem detetado o macho no território da fêmea, o que indicia ser ele o progenitor das crias. Caso não fosse, tentaria matá-las para acasalar com "Malva", e a própria fêmea não o toleraria por perto, explica Carlos Carrapato do PNVG. O próximo passo para a confirmação da paternidade será recolher dejetos das crias para análise genética.
A história de "Malva" e "Mundo" é encarada como um sinal muito positivo. "Até agora só tinhamos animais criados em cativeiro e reintroduzidos, ou crias deles". Neste momento, "há conexão ibérica" entre populações distintas de ambos os lados da fronteira. Os biólogos e técnicos que trabalham na conservação do lince-ibérico em Portugal e em Espanha acreditam mesmo que a sobrevivência da população de Doñana poderá ser assegurada pela população existente no Alentejo.
Este ano, já 4 fêmeas de lince-ibérico tiveram crias na natureza em Portugal. Em relação ao ano passado, o primeiro ano em que houve crias, "está a ser um sucesso, duplicámos fêmeas com crias, este ano", remata Carlos Carrapato.
Esta quinta-feira, o ICNF anunciou a "conexão efetiva entre as populações de lince-ibérico em Portugal e Espanha" e informou que o macho "Mundo" foi detetado junto ao território da fêmea, através de vestígios e fotoarmadilhagem, e "identificado graças ao seu padrão de pelagem individual".